sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Janela de oportunidade: 25 de Setembro

Quais as razões para acreditar que o Benfica estará mais forte este ano que no anterior?

- Ao contrário do ano passado, em que comprou um titular válido (Gaitán) mais um que só chegou, realmente, em Novembro, quando a época já estava perdida (Salvio) e perdeu dois, mais um em Janeiro (Di Maria, Ramires e David Luiz), este ano o Benfica perdeu dois titulares válidos (Coentrão e Salvio) e comprou quatro (Artur, Garay, Capdevilla, Witsel). O onze base do Benfica é muito mas forte este ano, e o onze base é o factor mais importante na disputa do campeonato.

- Elevou muito o nível do plantel (Eduardo, Emerson, Matic, Bruno César, Nolito, Pérez, Rodrigo), aumentando as opções e permitindo a Jesus manter um ritmo físico mais constante e mais elevado. Será mais difícil as lesões e as quebras de forma afectarem a equipa e, por outro lado, o tipo de jogo que Jesus implementou, muito dependente de uma rotação alta e constante, não consumirá tanto a equipa como nos últimos dois anos, em que o Benfica acabou sempre em quebra física acentuada. Além disso

- O Benfica comprou para os lugares certos (baliza, centro da defesa, meio-campo e alas), e no processo ainda reequilibrou a equipa, quer em maturidade quer por deixar de ter no seu defesa-esquerdo o jogador desequilibrador, o que tornava a defesa adversária muito mais fácil – ter o defesa-esquerdo como referência atacante da equipa significa uma subversão estrutural tal que nem um Roberto Carlos conseguiria compensar.

- O facto de ter de entrar mais cedo em competição permitirá ao Benfica corrigir o que mais falhou no ano passado: o início. Nessa altura, como foi fácil de reconhecer ainda antes do bailarico da Supertaça, o Benfica, dos dirigentes aos jogadores, passou o defeso todo no Marquês de Pombal enquanto os outros trabalhavam. Dificilmente o Benfica entrará tão displicente na nova época. E um bom início é fundamental para um bom campeonato.

- A equipa estará prevenida, assim como o treinador. Já se nota uma alteração no discurso e nas acções. Haverá maior concentração, e o nível de ambição elevou-se. Há sangue novo e parece notar-se sede de triunfo em vários jogadores (Nolito, Emerson, Matic, Witsel)

- O Benfica parece ter começado a fazer as coisas bem. Desde o discurso do presidente (mais humildade) às movimentações de mercado e internas (venda de Roberto sem perda de capital; compra de guarda-redes bons e baratos; afiliação de Maxi com oportunismo; controlo sobre a habitual birra de Luisão; Garay, o jogador certo para a ocasião; Capdevilla a custo zero e um experiente e enérgico, mesmo que mediano, Emerson em vez de um júnior brasileiro sobrevalorizado; Matic, outro jogador certo para a ocasião, que (creio) vai dar pontos, como Javi Garcia deu há dois anos; Witsel, a aposta certa pelo dinheiro certo no momento certo, concluído rapidamente e sem dar azo a interferências (Witsel é melhor que Moutinho, e cairia como uma luva numa equipa como o Porto); Nolito, bom reforço a custo zero, defendido do assédio apesar da longa espera; Enzo Pérez, contratação rápida e no lugar necessário; Rodrigo, outro negócio de ocasião com um empréstimo bem gerido, que vai trazer resultados na melhor altura; a eterna situação-Cardozo desta vez bem gerida; evidente qualidade na capacidade de prospecção; forcing por Danilo até onde se devia ir, apesar da derrota negocial, pois era um jogador para entrar na equipa). Há, ainda, jogadas mal calculadas – 6 milhões por um Bruno César, suplente no Corithians e futuro suplente no Benfica, tal como Jara continua a ser; falhanço relativo no processo Danilo, por exemplo – mas a relação entre boas e más acções aponta num sentido tendencial muito positivo.

- Maior maturidade da equipa. Saviola e Javi Garcia, por exemplo, dois dos titularíssimos da equipa, não conheciam a dimensão da derrota no Benfica, só conheciam o sucesso e, sobretudo, não conheciam o valor real do seu verdadeiro adversário, nem a dificuldade real do campeonato português. Além disso, os líderes da equipa experimentaram um ano terrível. Isso dar-lhes-á maturidade, que será bem aproveitada se, psicologicamente, se formar uma dinâmica de grupo e de vitória.

Existem, ainda, situações de vulnerabilidade da equipa, mas essas são já antigas. O defeso não enfraqueceu o Benfica, como no ano passado – fortaleceu-o em alguns pontos, se bem que não em todos.

A grande questão é: serão estes factores suficientes para eliminar o grande fosso qualitativo que no ano passado separou o Benfica do Porto e para permitir uma ligeira vantagem, no final, para o Benfica?

A resposta é não. Mesmo considerando estas mudanças e uma eventual baixa de rendimento do Porto, as hipóteses racionais de o Benfica ser campeão rondam os vinte por cento. Na actual relação de forças, este Benfica ganharia um campeonato em cinco ao Porto. Mas será o deste ano?

A solução, para o Benfica, tem duas vertentes complementares à da sua melhoria interna: o rendimento do Porto e o calendário. Sobre as possibilidade de o Porto fraquejar, já falei. Em relação ao calendário, as primeiras seis semanas de competição após o início do campeonato serão o período decisivo para o Benfica.

Jornada 1 , 12 a 14 de Agosto

Gil Vicente – Benfica; Guimarães – Porto

Um jogo, na prática, mais difícil que na teoria. O Gil vem da segunda divisão como campeão, traz a dinâmica de vitória que geralmente permite aos recém-promovidos manterem-se na I Liga mesmo com plantéis teoricamente inferiores e mais inexperientes, joga em casa e sem qualquer pressão. O Benfica tem a vantagem do ritmo competitivo superior, além de todas as outras mais evidentes. Jesus ainda não ganhou o primeiro jogo do campeonato no Benfica, e nunca o jogou fora. Da última vez que o Benfica ganhou na primeira jornada do campeonato, há seis anos, com Trap, foi campeão.

O Porto enfrenta um adversário a quem terá ganho uma semana antes, o que o tornará, e ao ambiente mais difícil. É mais provável que o Guimarães aprenda algo da derrota da semana anterior que o Porto da vitória. Além disso, o Porto não esteve tão imperial na Supertaça como poderia.

Em Guimarães, o Porto geralmente consegue ganhar quando chega pressionado e não desempenha tão bem quando está mais à vontade, Nas duas vezes em que o Porto não ganhou na primeira jornada nos últimos dez anos não foi campeão. Voltar ao segundo lugar do campeonato mais de um ano depois seria uma mudança estranha em todo o contexto da competição, e sugeriria vulnerabilidade de uma equipa que, na cabeça das pessoas, acabará o campeonato novamente invicta – apesar de isso ser altamente improvável, a última imagem é sempre a que fica.

Jornada 2, 21 de Agosto

Benfica – Feirense; Porto – Gil Vicente

Jogo fácil em casa entre os jogos da eliminatória da Liga dos Campeões com o Twente (dois dos dez jogos mais importantes do Benfica em toda a temporada) e que, por isso, se pode tornar difícil. Uma vez que ainda se trata de uma fase muito precoce da época, é possível que Jesus não faça poupanças, até porque o campeonato vai parar pouco tempo depois e a maior parte dos jogadores não joga pelas selecções.

Jogar com as duas equipas recém-promovidas nas duas primeiras jornadas, pela razão da competitividade atrás referida, pode ser traiçoeiro, até porque se uma vitória é o mínimo exigível, empatar um jogo em casa com o Feirense equivale a dizer adeus ao título.

O Porto tem um jogo em casa em que, se não tiver sido surpreendido pelo Guimarães, pode facilitar – um jogo do tipo daqueles em que o Porto costuma, nos anos maus, ceder o seu empate em casa, contra equipas muito mais fracas, a jogarem fechadas. Num campeonato tão equilibrado como o que se adivinha, os tradicionais (raros mas caros) empates em casa com equipa menores podem ser decisivos, não tanto pelos pontos que se perdem como pela posição de pressão em que deixam as equipas candidatas, condicionando a sua abordagem aos jogos mais complicados. Esta jornada abre essa possibilidade.

Jornada 3, 28 de Agosto

Nacional – Benfica; Leiria – Porto

Quando o Benfica ganha na Madeira, ao Nacional, faz bons campeonatos. O Nacional já deve estar num bom momento, pois também começou a época mais cedo, e parece ter uma boa equipa, com um treinador que não inventa. Será um dos jogos-chave do Benfica, três dias depois da decisão da eliminatória da Liga dos Campeões. Em caso de eliminação com o Twente é natural que a pressão interna suba e que leve a uma maior concentração por parte dos jogadores, de forma a não deixar fugir outro objectivo. Em caso de vitória na LC, o oposto é admissível. O factor-sorte, que foi fundamental no último título do Benfica e no descalabro do início da última época, revelar-se-á aqui. O Benfica não conseguirá ser campeão sem sorte, e este é um jogo para a sorte aparecer. O Benfica terá uma eventual vantagem por jogar tão cedo na Madeira, o que também aconteceu na época passada, na qual perdeu ali o campeonato, à quarta jornada. Não se sabe, por um lado, se estará avisado (presume-se que sim), e, por outro, se será afortunado. O jogo com o Nacional será perfeitamente crucial para o campeonato do Benfica. Encerra o primeiro ciclo de competição, com três jornadas no campeonato (com dois jogos fora) e duas eliminatórias da Liga dos Campeões. No máximo, o Benfica pode ceder, nestes três jogos a nível interno, um empate, se quiser ter hipóteses de lutar pelo título. Depois da interrupção do campeonato o Benfica tem dois jogos em casa, o sempre fulcral primeiro jogo da fase de grupos da LC, e o jogo nas Antas.

O Porto tem um jogo tradicionalmente difícil, com o Leiria, contra o qual, por vezes, e sem explicação evidente, deixa fugir vitórias certas.

Pode parecer exagerado dizer que a terceira jornada é fundamental na corrida para o título mas se é verdade que o campeonato é uma maratona não o é menos que se um corredor perde um minuto para os da frente no terceiro quilómetro da maratona muito dificilmente terá hipóteses de a acabar bem. Quando se fazem as contas, no fim da época, as primeiras jornadas contam tanto como as últimas – as hipóteses tanto morrem numas como nas outras.

 4.º jornada, 11 de Setembro

Benfica – Guimarães; Porto – Setúbal

Um empate de qualquer uma das equipas nesta jornada pode revelar-se crucial, dado o encadeamento de jogos que se segue. É o tipo de jogos em que se ganha ou se perdem campeonatos. O Guimarães é sempre um adversário difícil para o Benfica, mesmo na Luz. Quando ganha, o Benfica parece fazê-lo sempre no limite e com sorte. É, nos tempos modernos, um dos jogos mais traiçoeiros da época para o Benfica.

Sobretudo porque o Porto recebe um adversário que nunca lhe consegue roubar pontos nas Antas.

Um factor importante é o de a Liga dos Campeões se iniciar na quarta-feira após esta jornada, o que pesará na cabeça dos jogadores, sobretudo se o adversário europeu for um dos candidatos ao apuramento. Quem ganha o primeiro jogo do grupo passa aos oitavos-de-final em 90 por cento das vezes e paga a época seguinte. É difícil não achar isso mais importante que um dos trinta jogos para o campeonato, e em casa.

5.º jornada, 18 de Setembro

Benfica – Académica; Feirense – Porto

É uma vantagem para o Benfica ter dois jogos seguidos em casa nesta fase de embalagem, desde que consiga materializar. O jogo pode parecer fácil, mas a Académica tem tido sorte nas últimas épocas, na Luz, incluindo uma vitória no minuto 93, na primeira jornada da última época. O efeito pode ser o inverso, contudo. O Benfica não terá razões para entrar convencido, pois estará avisado. A Académica tem, este ano, novamente, depois de Domingos e Jorge Costa, um ascendente portista, com o estágio profissional de Pedro Emanuel e o empréstimo de vários jogadores. Passar este adversário seria um bom auspício. Tropeçar nele, o contrário. Todos os jogos do Benfica, neste período, surgem com um factor de interesse especial, mesmo este. Há um nível de intensidade inerente a cada um deles que, resultando positivamente, faz cheirar a título.

O Porto joga fora contra uma equipa que deve ser muito difícil em casa, apesar de pertencer ao grupo de influência portista. Nas poucas vezes em que perde campeonatos, o Porto costuma deixar-se empatar ou perder fora com uma ou duas equipas do seu círculo de influências, geralmente ao Norte.

Para ser campeão o Benfica tem de fazer seis pontos nestas duas jornadas em casa, nem mais nem menos.

6.ª jornada, 25 de Setembro

Porto – Benfica

Num campeonato extremamente equilibrado, uma vitória de um dos candidatos sobre o outro na primeira volta vai condicionar o resto do campeonato, porque vale sete pontos: três da vitória, três da derrota do adversário e mais um no desempate directo, além de condicionar o tipo de jogo que se jogará na segunda volta, onde o jogo passará a valer oito pontos – três mais três mais dois.

Se o Benfica chegar a esta fase da temporada à frente do campeonato isso significará, certamente, que não perdeu nas Antas. Isso dar-lhe-ia a vantagem anímica necessária para o resto do campeonato. Não lhe garantiria a vantagem necessária mas representaria cerca de setenta por cento de possibilidades de ser campeão, e praticamente cem de acabar nos dois primeiros lugares.

Por outro lado, o inverso significaria que teria cinco a dez por cento de hipótese de manter as esperanças no título vivas até ao Natal, até porque provavelmente viraria atenções para a Champions League.

Uma não-vitória nas Antas frente ao Benfica lançaria o Porto numa espiral de desconfiança, a duvidar do seu destino, um revés importante após um ano de perfeição em que ganhou por 5-0.

Esses 5-0 pairarão sobre a cabeça de todos os jogadores. A reacção de ambas as equipas à influência psíquica que essa memória exercerá será importante, embora o Benfica não tenha dado mostras de grande resistência à adversidade. Não é uma equipa suficientemente orgulhosa nem confiante para se inspirar num resultado negativo para triunfar. É, antes, uma equipa algo desgarrada, que facilmente sucumbe à adversidade e depende muito da sorte. Pelo menos até aqui. Os novos jogadores terão um papel determinante numa eventual alteração de mentalidade, porque os outros, por si só, já não aprendem línguas.

Este jogo disputa-se antes da segunda jornada da Liga dos Campeões, e, ainda que dependendo muito do resultado no primeiro jogo, a abordagem de cada uma das equipas vai dizer, realmente, quem é que está mais interessado em quê, independentemente das frases politicamente correctas atiradas para os jornais todas as semanas a dizerem que o campeonato é que é importante ou que todas as provas são para ganhar. Em 2010 foi claro para toda a gente que o Porto queria muito mais singrar na Liga dos Campeões que ser pentacampeão nacional, e isso viu-se em campo. Só assim um Benfica sem dois ou três titulares ganhou na Luz por 1-0 e arrancou para o triunfo no campeonato.

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