segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Jornada 1

O que parece:

O Porto obtém o melhor resultado, num dos terrenos mais difíceis do campeonato, perante um Vitória que aposta, este ano, numa equipa muito física, de feios, porcos e maus, e que jogou num sistema de passe longo rápido que colocou problemas.

O Benfica acaba o jogo com um resultado sofrível mas não completamente mau. Um ponto num campo adversário na primeira jornada não é um resultado definitivo. As condições em que foi alcançado fazem-no parecer pior do que é. Não impede o objectivo de chegar ao final do jogo das Antas, na 6.ª jornada, à frente do campeonato, mas aumenta a pressão para os próximos quatro jogos, onde tem, obrigatoriamente, de ganhar.

O Sporting, independentemente das contingências, compromete as suas escassas aspirações ao título ao empatar um dos dois jogos, no máximo, que pode empatar em casa se quiser ser campeão. Tem, dos três, o pior resultado.

O que é:

Recorrendo ao meu Índice de Relação Pressão-Resultado (IRPR), baseado em factores internos e externos e em situações de jogo, e em que um valor teórico de 0,0 equivale a um resultado positivo numa situação de total ausência de pressão e 1,0 equivale a um resultado positivo na situação de maior pressão potencial para a equipa dentro das competições que disputa, as conclusões são algo diferentes:

Porto (IRPR = 0,385) – teve a melhor prestação, porque ganhou perante o adversário mais forte e no ambiente situação mais complicado.

Sporting (IRPR = 0,140) – as situações de jogo e o histórico recente em Alvalade tornavam o jogo mais difícil para o Sporting que propriamente o adversário. Em caso de vitória o Sporting teria tido o melhor índice entre os três grandes nesta jornada (0.420). O empate divide o IRPR potencial por três e reflecte, na minha opinião a relação entre o resultado possível e o resultado alcançado no contexto em que aconteceu.

Benfica (IRPR = 0,078) – O pior desempenho sobre pressão, que o desenrolar do jogo atenuou bastante e o Benfica não soube controlar.

O que fica por saber:

Porto:

- A incapacidade de responder às expectativas, manifesta nas crónicas, vai agudizar-se ou ser resolvida? O resultado foi positivo, e isso, até há poucos meses, no estado de graça, chegava. A mudança de treinador gera desconfiança, Vítor Pereira não tem a mesma imprensa que Villas-Boas. É possível que o Porto deste ano sofra do mesmo estigma do Benfica no ano passado, em que toda a gente falava das proezas do ano anterior como se elas tivessem mesmo existido, em vez de terem existido apenas na cabeça das pessoas. Na realidade, a qualidade e o estilo de jogo do Benfica campeão não era muito diferente da do Benfica de 2011, apenas alguns resultados foram diferentes, mais pela sorte do jogo que por capacidade de resposta interna. Isso não impedia os críticos de falar no «Benfica do ano passado» para, comparando com o «Benfica deste ano», invocar exibições que, na verdade, nunca existiram. O Benfica campeão jogava apenas um pouco melhor do que o Benfica entre a quinta e a vigésima quinta jornada do campeonato seguinte.

Da mesma forma, fala-se do Porto do ano passado como se ele fosse uma máquina exibicional perfeita quando, na verdade, até aos 5-0 ao Benfica, nas Antas, o Porto era antes uma equipa de resultados, de trabalho, de dinâmica e sem grande brilho. Isso não impedirá os críticos de fazer desse Porto uma equipa que não era. Vivemos num mundo de expectativas, em que a realidade, muitas vezes, é acessória. O Porto até pode ser melhor do que no passado, mas se não for tão bom como os críticos idealizam que deve ser, terá problemas na opinião pública e, a prazo, por causa disso, internos.

- Falcão apareceu na sala de imprensa, contra a vontade dos dirigentes, a dizer que não rejeita sair para o Atlético de Madrid. É, na prática, uma forma de dizer que quer sair. Fernando viu o jogo no meio dos Superdragões, e é um claro caso disciplinar. Rolando já tinha dito que era o melhor momento para sair, tal como Fucile, e Álvaro Rodríguez está na rampa de lançamento. O discurso do novo treinador ainda não convenceu ninguém. O todo é, aparentemente, sólido, mas há claras brechas que só não serão mais visíveis no caso de não haver pressão exterior.

- Uma vantagem inicial pode ser traiçoeira e transmitir uma ideia de facilidade que, certamente, não vai acontecer.

Benfica:

- Em dois jogos consecutivos o Benfica volta a mostrar o seu principal defeito, que tem já vários anos e que Jesus, tendo disfarçado com a mudança do tipo de jogo para um registo muito ofensivo, não conseguiu corrigir: a incapacidade de controlar o tempo e o momento do jogo. O Benfica vai conseguir começar a jogar a duas ritmos (alto risco e baixo risco) ou passará todo o campeonato a jogar sempre em risco elevado e a deixar fugir vantagens e pontos? Provavelmente a segunda hipótese será verdadeira, porque sem os jogadores que jogam em alto risco não consegue chegar a vantagens que depois tenha de guardar. Quando as coisas correram, bem, no ano 1, o alto risco deu um campeonato, uma meia-final da Taça e uma Taça da Liga. No ano 2 deu um segundo lugar, uma meia-final da Taça UEFA, uma meia-final da Taça de Portugal e uma Taça da Liga. A verdadeira dúvida para o Benfica deste ano é a seguinte: vai alcançar muito bons resultados a jogar com o coração nas mãos ou resultados apenas bons (mas insuficientes) a jogar com o coração nas mãos? Tanto pode dar uma como a outra. Para já, não perdeu o primeiro jogo e não o perdeu em casa, o que é uma evolução muito importante em relação ao ano anterior.

Sporting:

- Ao contrário do ano passado, o empate em casa, ainda que provavelmente comprometedor para as suas possibilidades de lutar pelo título, parece mais um acidente de percurso que um desastre anunciado, como eram os jogos em casa no ano passado. A equipa respondeu relativamente bem à pressão. Mas o empate aumenta, ao mesmo tempo, essa pressão. Passará por cima deste resultado ou deixar-se-á enganar por ele?

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