segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sporting

Algumas coisas interessantes relativamente à derrota do Sporting com o Marítimo:

1.       Quem acha que o calendário, nomeadamente a concentração de jogos, não influencia o rendimento das equipas está completamente enganado. A quebra do Sporting depois do intervalo – o cansaço provoca desconcentração, é tão simples como isso – e a incapacidade de reagir depois do 1-2 resultaram do facto de o Sporting ter jogado na quinta-feira e no domingo com os mesmos jogadores.

2.       Na sequência do primeiro ponto, enganam-se também os que falam da extensão dos plantéis como solução para esse problema. Quando uma época começa rapidamente os treinadores encontram as suas primeiras escolhas e, ao contrário do que dizem, os jogadores não são todos iguais. Jogam aquelas em quem o treinador confia mais, e o treinador, nas situações como as de ontem, não arrisca nunca em mudar meia equipa. Muito mais importante do que ter plantéis de 25 ou 26 jogadores é ter um grupo de 14 ou 15 jogadores que saibam ganhar jogos economicamente, ou seja, eficazes, usando menos recursos para atingir os seus objectivos. Este Marítimo é uma equipa banal. Se Domingos não muda quatro ou cinco jogadores numa situação destas, com uma equipa banal, em casa, e depois de uma eliminatória jogada até aos 90 minutos, não mudará também durante o ano. Ou seja, o Sporting compra 15 jogadores, utiliza nove que já tinha em dois jogos seguidos em que tem de ganhar e só precisa de 14 ou 15. O Sporting vai acabar a época com dois ou três jogadores muito valorizados, com um pouco de sorte ganha a Taça ou a Taça da Liga e com dez ou onze jogadores para dispensar. E o Domingos está a dizer na conferência de imprensa que ainda deve vir alguém.

3.       O primeiro golo do Marítimo não é sem querer mas quase – o jogador falha a cabeçada e a bola bate-lhe no ombro e passa por cima do guarda-redes. O segundo golo do Marítimo só acontece porque Rui Patrício não está preparado e escorrega quando se lança à bola. Em dois jogos em Alvalade, Patrício tem responsabilidades nos dois resultados. No segundo golo do Sporting não há falta do jogador do Marítimo mas sim do Sporting. E Jeffren lesiona-se porque acerta tão mal na bola que ela vai para o meio da barreira, ressaltando num jogador e entrando ao meio da baliza.

4.       Patrício, João Pereira, Polga, Carriço, Evaldo, André Santos. Pensar que é coincidência o Sporting sofrer dois golos de canto, e três em casa (sobretudo depois de se ver Carriço a saltar a olhar para o avançado do Marítimo a fazer o 3-2) com a mesma defesa do ano passado é uma loucura. Domingos tem meia-razão quando diz que não tem a ver com altura mas com agressividade: tem a ver também com o físico e com a forma de o impor, porque o que falta ao Sporting nas bolas paradas é presença, e a parte principal da presença tem a ver com o volume.

5.       É desonesto falar de erro no suposto golo anulado, e é desonesto falar de responsabilidade do árbitro na derrota do Sporting. Primeiro ponto, não foi pelo suposto golo mal anulado que o Sporting não chegou ao golo. Só não soube gerir a vantagem. Segundo ponto, na lei diz-se que o fora-de-jogo deve ser assinalado quando a bola parte, mas na prática, o fora-de-jogo só ser marcado no momento em que o auxiliar vê a posição do jogador. O milésimo de segundo que o auxiliar leva a olhar para o destino da bola – porque tem de a ver partir! – é o suficiente para dois jogadores movendo-se em direcções opostas se afastarem três metros. Seria completamente irresponsável se um auxiliar que visse um atacante três metros adiantado à defesa assim que olha não marcasse fora-de-jogo. Tem de marcar o que vê, não o que supõe, ponto final. Isto acontece dezenas de vezes por ano, e nessas dezenas de vezes não é honesto falar de erro.

6.       Na sequência do quarto ponto, e ainda sobre o «caso João Ferreira», ainda não vi um único jornalista – e agora está o Rui Santos a falar sobre isso na TV e a voltar a trocar alhos com bugalhos – dizer que João Ferreira não se recusa a apitar em Aveiro por causa das críticas em relação à actuação de Xistra no jogo com o Olhanense mas sim porque o Sporting usa os seus canais oficiosos – leia-se Bernardo Ribeiro, do Record, e outros – para pressionar a arbitragem de João Ferreira, dizendo que desconfiava de João Ferreira. Os árbitros não se rebelaram contra a críticas, mas contra a crítica preemptiva. Diga-se que o Sporting tinha toda a razão em desconfiar de João Ferreira, que é benfiquista dos sete costados e não se coíbe de o demonstrar em campo.

7.       Parece haver quem pense que o Sporting pode voltar atrás. Não pode. O Sporting desistiu de ir por um caminho, no consulado de Bettencourt, e, ao optar por investir dinheiro que, pura e simplesmente, não tem, para mudar uma equipa inteira, queimou a ponte. Por outro lado, ao recuperar Luís Duque e Carlos Freitas e ao contratar um treinador do Porto, como Domingos, jogou demasiado forte para poder falhar. A lista de consenso de Godinho Lopes, em que todas as tendências do establishment encontraram lugar é, antes, uma lista do consenso final. O Sporting, neste momento, não tem outra alternativa senão funcionar, nem que ande mais cinco ou seis anos a enterrar dinheiro e a vender anéis.

8.       Isto comprova-se, mais do que tudo, na mudança potencialmente fundamental que o Sporting teve relativamente ao Porto. Ao contratar um portista, ao ressuscitar o ataque ao sistema, ao insistir no ataque aos árbitros (como se viu agora Godinho Lopes, ao dizer uma série de baboseiras após um jogo miserável da sua equipa para manter a campanha anti-arbitragem a correr) e ao aproximar-se do Benfica num momento em que a arbitragem vai passar a depender, acima de tudo, do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o Sporting teve, pelo menos, um grande mérito: deixou de apontar a meia altura e passou a apontar alto. O Alvo do Sporting, neste momento, já não é o Benfica mas sim a primeira potência, o primeiro lugar, o topo. O Porto. Este é um tipo de movimentação de fundo que pode ser revolucionária no futebol português. Um erro político que Pinto da Costa nunca cometeu foi ficar, simultaneamente, contra Sporting e Benfica. Com dirigentes audaciosos no Benfica e Sporting (como é o caso actual) o Porto não tem força para manter a supremacia no futebol nacional. Sem os «intangíveis», o Porto deixa de ser tão melhor que os outros.

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