sábado, 10 de setembro de 2011

Berlusconi mais dez

Actualmente há uma tendência evidente para considerar Messi o melhor jogador do mundo. Passou a ser moda e, por isso, toma-se essa conclusão como mais racional do que realmente é. A verdade é que o suposto fosso (ainda que pequeno) que se diz que existe entre os dois neste momento não o é – ou é ainda mais pequeno do que se julga. De tal forma que creio que facilmente as posições se reverterão no momento em que o Real ganhar ao Barcelona, e graças a apenas uma nuance no pensamento: basta aparecer alguém com suficiente reputação a dizer «a verdade é que Ronaldo faz a sua equipa ganhar à equipa de Messi» para a agulha mudar.
Continuo a pensar que só haveria uma maneira – que não existe, realmente… - de saber quem é o melhor: se cada um dos treinadores das onze equipas mais ricas do mundo tivesse a oportunidade de contratar um dos dois, mas acreditando realmente que o poderia ter. Ou seja, não sendo uma mera hipótese académica mas uma possibilidade real.
O Berlusconi chegar ao pé do treinador do Milão, por exemplo, e dizer-lhe: «Figlio mío, estou velho, já comi as gajas todas que tinha para comer, isto nem com pastilhas de dinamite já lá vai, por isso vou fazer uma loucura. Quero comprar o Messi ou o Ronaldo para ver se ainda consigo ter um orgasmo, mas só tenho dinheiro para um e não consigo decidir. Qual é que quer?»

O melhor jogador do mundo seria aquele que fosse escolhido mais vezes – e sim, é por isso que seriam precisos onze treinadores: porque provavelmente com dez havia empate 5 a 5. Ah, e o Mourinho e o Guardiola não podiam votar, obviamente. Até porque já os têm.

Mas também digo que não vou na onda do «são os dois muito bons», do «ficava com os dois» típico dos botas-de-elástico do pontapé na chincha ou do «são os dois diferentes». Pois são.
O Messi tem o melhor drible em velocidade desde que a televisão passou a ser a cores. Sim, melhor que o Maradona. O Maradona era melhor em tudo o resto, mas no drible rápido não. Bom, na habilidade natural, provavelmente também era melhor. Não podemos esquecer a melhor definição de sempre de Maradona. Disse Platini: «Não façamos confusões, eu fui um bom jogador, mas o que eu fazia com uma bola Maradona fazia com uma laranja.»

O Ronaldo, como o Maradona, também é melhor do que o Messi em tudo o resto, excepto numa coisa: na capacidade (que virá, digo eu, da necessidade) de jogar em equipa. Imagino que, desde miúdo, sendo mais pequeno e leve do que os outros, ao contrário do Ronaldo, o Messi tenha tido de procurar mais o apoio dos companheiros, o que lhe deu um espírito mais colectivo. Isso explicaria por que razão, na ausência da equipa (na selecção, até agora, por exemplo), o Messi tenha mais dificuldade em mostrar a sua qualidade que o Ronaldo, que se distingue, na mesma ausência, por um individualismo relativamente produtivo.

Tirando esse sentido colectivo invulgar para um jogador com semelhante talento individual, o Ronaldo é melhor que o Messi em tudo. É mais forte, mais rápido, mais completo, de longe.
Se estivesse na mesma situação, Messi teria conseguido ver o passe que Ronaldo viu no terceiro golo do Real frente ao Getafe, mas nunca o teria conseguido fazer com o pé direito como Ronaldo o fez com o pé esquerdo – porque não tem técnica nem força para isso.
O Messi faz um golo de cabeça quando o rei faz anos (é verdade que, há três anos, o rei fez anos na final da Liga dos Campeões, onde, curiosamente, o Ronaldo não fez nem anos nem meses, mas depois disso não me lembro de outro). O Ronaldo é, apenas, um dos melhores cabeceadores do mundo, em impulsão, técnica e produtividade (há poucos a marcar mais golos de cabeça que ele).

Dito isto, atenção: ao Ronaldo não falta sentido colectivo. Pelo contrário. O Messi tem muito, o Ronaldo tem o suficiente. O suficiente para, se eu fosse o treinador do Chelsea e o Abramovich me quisesse dar um presente, o escolher a ele.

Mais uma achega importante: Messi e Ronaldo não são do mesmo campeonato. Messi é o melhor do mundo em Espanha, e, até ver, só no Barcelona (de onde, provavelmente, nunca sairá). Ronaldo é o melhor do mundo em Espanha e Inglaterra, jogando por duas enormes equipas, com estilos diferentes e em tipos de futebol diferente. Alguma vez poderemos comparar a produtividade de Messi noutro campeonato, e a jogar com outro tipo de jogador – com um Anderson em vez de um Iniesta, por exemplo?

Feita a minha escolha, há outra coisa que acho importante dizer: está na hora de encerrar a discussão sobre qual é o melhor jogador português de todos os tempos. A resposta só pode ser uma. Não há nenhum critério, objectivo ou subjectivo, que aponte para outro que não Ronaldo.

Em termos meramente futebolísticos, Ronaldo faz tudo o que Eusébio e Figo, no seu tempo, fizeram, e ainda mais.
Em termos de feitio, é vaidoso, sim, mas o feitio não se pode discutir. Aliás o tratamento que é dado a Eusébio – o de ser extremamente humilde, simples, inocente, etc – é, na minha opinião, perfeitamente degradante. É um tipo de paternalismo que só existe por ele ser negro e africano.
Quanto a Figo, que tem excelente imprensa e foi um grande profissional, sim (mas mais do que Ronaldo?) fez algo – e por duas vezes, uma enquanto júnior, no Sporting, quando assinou pelo Benfica – que não se vê Ronaldo a fazer. A troca do Barcelona pelo Real é um dos actos mais infames na história do futebol. E digo isto gostando muito do Figo. Ronaldo deixou o Manchester não por dinheiro, porque o United lhe pagaria o mesmo, mas por paixão, por dar, realmente, importância ao facto de jogar no Real Madrid.
Em termos de distinções e títulos, Ronaldo ou já chegou lá ou falta muito pouco – e não tenho dúvidas de que vai ser o mais titulado dos três. Mas, mesmo que não os consiga, já tem o suficiente para ser considerado o melhor futebolista português de todos os tempos.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Confesso que não me interessa muito saber quem é o melhor ou o pior e até me irritam as eternas discussões sobre isso, onde cada um dá a sua opinião com ar doutoral.
    Dito isto, não posso deixar de assinalar a habitual inteligência do texto e a originalidade e sentido da forma como se sugere a eleição do melhor.

    Passemos, por isso, a coisas mais importantes. Este blog é do mais interessante e até supreendente, pela positiva, do que já li, no que diz respeito a futebol. Passou a fazer parte dos destinos diários obrigatórios.

    Cumprimentos

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  3. Obrigado. É feito com gosto, ainda que, por vezes, obviamente, com disparates à mistura. É o sortilégio dos blogues!
    Como diz o poeta, «traz outro amigo também, e seja bem vindo quem vier por bem».
    Abraço.

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