segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Championite

Aí está a Champions outra vez.
Benfica

O segundo ciclo de competição do Benfica nesta época, iniciado após a vitória com o Nacional, na Madeira, e a paragem para o jogo da selecção, está a ser, senão o melhor, pelo menos um dos melhores períodos de competição da equipa desde a entrada de Jorge Jesus para treinador.
Todos os resultados conseguidos desde o jogo com o Guimarães, em casa, estiveram no limite óptimo da equipa. Vitória (2-1), Unáite (1-1), Académica (4-1), Porto (1-1) – esta equipa do Benfica não consegue fazer melhor do que isto, mas se jogasse sempre com esta eficácia ao nível dos resultados teria a sua melhor época dos últimos trinta anos.
Já estão a ver onde é que eu quero chegar, certo?

Dos cinquenta jogos a sério que o Benfica tem numa temporada, 5 fazem-nos sonhar a todos, 40 dão para os dois lados, conforme sejamos pessimistas ou optimistas, e 5 levam-nos a desejar o despedimento sumário de toda a gente, a começa pelo treinador.
Preparem os vossos fígados, porque o jogo com o Otelul tem tudo para pertencer a esta última categoria. Como já escrevi há uns tempos, duvido muito que o Benfica consiga dois grandes resultados no conjunto Porto-Otelul, e o que me levava a pensar assim nessa altura é o que me leva a pensar assim agora:

- o jogo no Porto foi física e animicamente exaustivo, e o calendário nem sequer permitiu um dia de descanso antes da viagem, sempre chata, para a Roménia. As pernas não vão responder da mesma maneira e, a partir de certa altura, vamos assistir àquele espectáculo enervante que é estarmos nós em casa a gritar «Ó pá, mexe-te, porra (com C maiúsculo)!» e os jogadores de mãos nas ilhargas, sem gasolina sequer para respirarem de costas direitas. Já vimos isso muitas vezes. O corpo é que manda;

- ciente disto, e da importância que pode vir a ter o jogo com o Paços de Ferreira em casa (Porto joga em Coimbra, Sporting em Guimarães, Braga noutro sítio qualquer – para mim o Braga não conta para o totobola, desculpem lá), o Jesus e a equipa vão considerar o empate um bom resultado. E sabem de uma coisa? Eu, pragmaticamente, estou de acordo.
Pensando profissionalmente, e não com a treta do «todos os jogos são para ganhar», nem todos os jogos são ganháveis, e saber jogar com os resultados é uma parte fundamental de quem anda no futebol profissionalmente.
Um empate na Roménia, num contexto de uma competição interna muito exigente, contra uma equipa que faz a sua estreia em casa para a Champions , que joga, segundo as informações que nos chegam, no limite do colectivismo e da pressão defensiva, que está motivadíssimo e que só perdeu na Suiça, pelo que eu vi, por gritante inexperiência (um handicap que será muito atenuado pelo factor casa), é, a longo prazo, um bom resultado. O que é fundamental é não perder, e montar uma equipa com esse objectivo.
Com um empate na Roménia o Benfica consegue levar a discussão do apuramento para o próximo ciclo competitivo, onde tem os dois jogos com o Basileia após a interrupção para os jogos da Selecção, e com a vantagem de jogar o primeiro em casa, em que a vitória é obrigatória. Além disso, prevejo um jogo muito mais acessível para o Benfica na Suiça que na Roménia, quer pelo valor das equipas quer pelo ambiente que vai encontrar. E é natural que os próprios jogadores encarem os jogos com o Basileia como decisivos depois dos resultados da primeira jornada.
O Jesus é menino para fazer estas contas, e não me surpreenderia se jogasse em Bucareste com a equipa opcional. Qualquer coisa como: Artur, Ruben Amorim, Luisão, Garay, Emerson, Javi, Matic, Bruno César, Saviola, Cardozo e Rodrigo (ou Nolito em vez de Cardozo ou Rodrigo).
Podemos esperar bons jogos dos centrais, dos dois médios defensivos, de Saviola e de Bruno César, que vai ter muito que correr e chutar, como ele gosta. O Benfica vai marcar golos, e eu apostaria no Chuta-Chuta para fazer um neste jogo.

- finalmente, como já escrevi no domingo, o resultado nas Antas tirou, definitivamente, a Champions do lugar prioritário na cabeça de toda a gente, de jogadores a adeptos. E ainda bem, digo eu. Não queremos milhões, queremos campeões. (Olha, bom slogan…)

Porto

O Porto vai passar um mau bocado na Rússia e desta vez o coloquial frio não será, nem de longe, a maior preocupação – até porque ainda não está frio nenhum em São Petersburgo.
Este é um jogo muito importante para o Porto. Se não virmos uma reacção imediata por parte dos jogadores é porque, provavelmente, não voltaremos a assistir a mais nenhuma exibição do gabarito das que assistimos na época passada. É porque o Porto já não tem essa energia dentro de si.
Sei como é que o Porto vai encarar o jogo: vai tentar recuar e reagrupar, levar o jogo para um terreno mental confortável durante 50 ou 60 minutos e, depois de domar o Zenit, arriscará, muito pouco, atacar. Esse recuo estratégico é o comportamento típico do Porto em momentos de dificuldade. Como dizia um professor meu, no ano passado, «um Ranger só recua para ganhar balanço». É o espírito. Mas que vai recuar, vai.

O problema é que o Zenit vai ser o pior adversário possível para o actual momento do Porto. Uma equipa viciada em ganhar em casa, com o apuramento preso por um fio, que encarará este jogo como a única hipótese de recuperar os pontos que perdeu, incrivelmente, no Chipre. Se ganhar ao Porto, o Zenit fará o que mais ninguém no grupo conseguirá fazer, e reabre a possibilidade de decidir o apuramento nos dois jogos com o Shaktar. Se perder ou, até, empatar, o Zenit está eliminado. Estamos a falar de uma equipa que gasta vinte milhões de euros num defesa-central. Estamos a falar da Rússia (sim, estou a falar de corrupção dos árbitros). E estamos a falar, objectivamente, de uma equipa muito boa, a caminho de ganhar o campeonato do seu país, e que está encostada à parede, para quem o apuramento na Champions é um objectivo claro.

Fisicamente, a equipa do Porto não está bem – grande parte das simulações no clássico, além da tentativa de arrancar vermelhos, resultaram na necessidade de abrandar o jogo, e se faltou instinto assassino foi, também, porque faltou força e confiança nas pernas.
Fucile, Álvaro Pereira, Kléber, Hulk têm problemas e não jogariam contra o Zenit e/ou contra a Académica se o treinador tivesse alternativas ao mesmo nível. São dois jogos de exigência elevada.

Uma derrota do Porto não passaria, necessariamente, em branco. Mesmo com a derrota do Zenit no Chipre, perder na Rússia levaria a decisão para dois jogos difíceis, com o Shaktar fora e com Zenit nas Antas, onde a probabilidade de um empate não é assim tão pouca. Por outro lado, com um empate na quarta-feira o Porto assegura o apuramento, pois, com seis pontos com o APOEL, faz os dez, que são sempre suficientes.


Estou, sinceramente, mais curioso em ver o jogo do Porto que o do Benfica, e acredito que uma parte importante do que será o campeonato português dependerá do resultado na Rússia. A possibilidade do Porto fechar o apuramento tão cedo ser-lhe-ia muito útil. Por outro lado, uma derrota retirar-lhe-ia quase toda a vantagem que ganhou com a calendarização, no sorteio.

3 comentários:

  1. A análise sobre o Benfica vai ao encontro da minha expectativa, principalmente depois de ter visto JJ na conferência de imprensa de antevisão a dizer que era fundamental pontuar fora (a cantiga estafada do entramos sempre para ganhar é disco riscado, tão riscado que já nem devia ser reportada). Apesar de reconhecer que um ponto, do ponto de vista da qualificação, serve, acho que o Benfica precisa da vitória, até para efeitos de auto-confiança. Seria excelente chegar a Old Trafford para discutir a liderança do grupo. Acho que a equipa devia ser rodada (e lamento a ausência de Cap, que permitiria a Emerson algum descanço, e gostaria de ver Rodrigo a jogar tempo que se visse, tal como Rúben e Matic. Aimar bem podia fazer a primeira parte, tal como no Ladrão. Mesmo com alguma rotação, se o Benfica não ganha a estes "mecos", não vejo como ganhará a alguém, fora.

    Sobre o Porto, a análise parece-me adequada. Eu estou a torcer por uma derrota. Seria mais um rombo no casco, bom para a crescente falta de confiança e obrigava-os a não darem o apuramento como garantido. Zenit!!!

    Abraço

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  2. João Gonçalves27/09/2011, 11:26:00

    O Benfica tem jogadores com qualidade suficiente para rodar a equipa no meio campo e no ataque. Já na defesa será mais complicado. Maxi por Ruben, tudo bem, mas Emerson será mais difícil de substituir. Miguel Vítor tem capacidade para substituir um dos centrais e o Luís Martins pareceu-me ser um bom jogador pelo pouco que vi no Mundial de Sub-20. Mas não sei se será este o jogo ideal para a sua estreia. Do meio campo para a frente é dar jogo a Bruno César, Matic, Rodrigo e Saviola. Sempre com Aimar e Cardozo de prevenção... E sim, o jogo com o Paços no próximo sábado é muito importante. Não se pode perder a embalagem...
    Quanto ao FCP o meu único desejo é que perca. Podem-me acusar de ser anti patriótico, mas não me interessa. Para esses nunca desejo nada de positivo. Exactamente o mesmo que eles nos desejam a nós...

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  3. Patriotismo é sermos leais uns com os outros cá dentro. Patriotismo para inglês ver, hipócrita e manipulador, não obrigado. A quantidade de vezes que o PC manipulou a Selecção Nacional para beneficiar o Porto é incontável. Quem quer ser comido por parvo que se sente à mesa dele.

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