terça-feira, 6 de setembro de 2011

Desertor

(comentário publicado no blog Bola na Área em 1-9-2011, sob nickname Especulador Precoce)

À primeira vista, o Ricardo passou-se. Mas acho que não devemos ser demasiado simplistas neste caso. Há jogadores diferentes dos outros, e o Ricardo Carvalho sempre me pareceu um jogador com uma sensibilidade muito invulgar no mundo de carroceiros que é o do futebol. Por este prisma, não me surreende muito que possa ter reagido mal a sentir-se ofendido. Aquilo que o ofende, provavelmente, a outros sabe-lhes a pato.

Também não posso dizer que não goste do estilo do Paulo Bento. É um homem do futebol que não atura tretas e que diz aos jogadores a verdade: que ganham demasiado dinheiro para pensarem que estão acima do que lhes é pedido. Trata Liedsons e Velosos por igual, e se calhar o problema, neste caso, é mesmo esse - o Ricardo Carvalho não é um jogador igual aos outros.

No entanto, nunca tomei o Paulo Bento por intransigente, por ditador ou por insensível, e confesso que me faz bastante confusão como uma simples e eventual falha de comunicação resulta numa situação tão estúpida, pois nem um nem o outro me parecem tacanhos.

Falar-se em indignidade, deserção e coisas afins soa-me completamente deslocado consierando as pessoas em questão.

Às vezes homens inteligentes fazem coisas estúpidas e adultos agem como crianças. É a natureza humana. Este parece-me um desses casos.

O que me faz mesmo confusão, tal como, aparentemente, ao autor do blog, é que não apareça ninguém de cabeça fria e com autoridade (e legitimidade, já agora) quer sobre treinador quer sobre o jogador para conversar, estabelecer diálogos, construir pontes e, no fundo, proteger a Selecção Nacional. Se nestes casos os dirigentes estão lá para dizerem «Não sei, a mim ninguém me disse nada...» serve para quê, e qual é a diferença entre um dirigente e um porteiro? Dirigentes para assinar cartas de despedimento, para participarem em campanhas de homicídios profissionais ou para aparecerem nas jantaradas temos, agora para estabelecerem um padrão de comportamento e profissionalismo que seja uma mais-valia para o país, tá quieto. Se pensarmos que, depois, é esta gente que vai para os quadros da UEFA, percebemos como é que os Dubais recebem Campeonatos do Mundo de Futebol - o maior escândalo na história do Desporto, na minha opinião, quer pelo processo quer pela cumplicidade posterior por parte dos supostos protectores do jogo.

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