sábado, 24 de setembro de 2011

O resultado que muda um campeonato

Então que tal de profecias, amigos?

Metade já está. O Benfica não só não perde no Dragão como chega à sexta jornada à frente do campeonto.

Como dizia o outro: «Adoro quando um plano bate certo».

Falta a outra metade: o Benfica será campeão, não por ter a melhor equipa mas porque fará o melhor campeonato, aproveitando uma dinâmica ascendente contra uma dinâmica decadente do Porto.



Amanhã, depois do jogo do Sporting, cá estarei para medir as implicações deste empate no campeonato, na minha perspectiva, mas, para já, algumas ideias que retive do jogo do Dragão:



1 – Gostei muito de ver o cartaz do Pinto da Costa a passar de Fórmula 1 moderno pelo Eusébio de Fórmula 1 antigo, porque me recordou de algo extremamente importante (e a que só daremos a devida importância daqui a um bom par de anos): a maior figura na história do Benfica é um jogador de futebol africano semianalfabeto; a maior figura na história do Porto é um político corrupto e monarca absolutista.



2 – Gostei de ver o Artur a levantar o pé à altura do peito do Guarin quando este se chegou a ele a correr armado em atrevido. Quem é que se encolheu? O Guarín. Esta atitude do Artur é precisamente a atitude de predador, de alfa, de que falei. Se eu fosse treinador do Benfica, pegava num vídeo só desse momento, repetia antes de todos os jogos com o Porto, e dizia aos jogadores: «É isto que é preciso fazer.»



3 – Quando é que percebi que o Benfica não ia perder o jogo do Dragão? Quando, com o resultado em 0-1, comprovei o efeito matilha. No lance do Cardozo com o Fucile, da simulação de agressão, que se passou junto à linha de cabeceira do Porto, os jogadores do Porto chegaram primeiro, porque estavam mais perto, mas poucos segundos depois já estavam lá oito do Benfica, que vieram a correr do outro lado do campo. Disse aos amigos com quem vi o jogo: «O Benfica não perde este jogo e é 2-2. E marcamos o 2-2 a poucos minutos do fim, senão é demasiado cedo para aguentamos o empate». Juro. Quando faltavam dez minutos disse-lhes: «Vamos marcar agora.» Foi certinho.

Não falo de ciência. Três dos quatro golos foram fortuitos, resultado de jogadas casuais de entendimento de jogadores, só o primeiro do Porto foi tirado de esquadro e régua. Falo de feeling. Sempre senti que o Benfica não ia perder este jogo.

Assinalo que o Benfica ganhou, na minha opinião, em dois dos quatro parâmetros que assinalei como essenciais para ganhar nas Antas: entrou melhor nas duas partes e foi mais solidário que o Porto. E o golo do empate é um exemplo de objectividade e eficácia. Se tivesse jogado mais simples e mais objectivo, se não tivesse perdido antas bolas divididas, teria ganho, tenho a certeza disso.



4 – Gostei muito da arbitragem. Podia ter feito três ou quatro más expulsões e conseguiu não estragar o jogo apesar das fitas e simulações de alguns jogadores, Fucile à cabeça de todos.



5 – Que ninguém menospreze, nunca, o valor de um jogador inteligente num jogo de alta pressão. Com um segundo de lucidez, inteligência e técnica o Saviola inventou o golo do empate num passe de primeira com o pé esquerdo, a rasgar a defesa, sem olhar, perfeitamente consciente do que fazia.



6 – O Benfica entrou como devia em termos de equipas, revelando audácia, mas ainda não ao nível da mentalidade. Ainda foi demasiadamente submisso. Faltou-lhe força, sobretudo porque lhe faltou equipa para conseguir mais. Mostrou, no entanto, capacidade de revolta. Não desvalorizemos o facto de Jesus ter escolhido os onze melhores, e não os onze melhores para este jogo. É extremamente importante, até em termos de futuro. Mas vamos ser claros: para se tornar melhor que o Porto o Benfica tem de ser mais agressivo, mais ostensivo, mais convicto do seu papel de desafiador. Sem isso limitar-se-á a continuar a fazer alguns bons resultados.



7 – Não me lembro, em quase trinta anos, de ver o Benfica recuperar de duas desvantagens com o Porto, nas Antas. Isto, por si só, justifica o sentimento de vitória, apesar de ter sido um empate. Foi a primeira vez que me lembro de ver o Benfica sair das Antas com um bom resultado não tendo tido, de todo, a sorte do jogo: sofreu um golo a frio a poucos minutos do intervalo e o segundo três minutos depois do empate, já na segunda parte. O Benfica frágil de outras épocas teria caído até ao 3 ou 4-1. Este Benfica aguentou-se. Este facto, por si só, é o que considero a ilação mais importante a retirar do jogo das Antas: o Benfica – esta equipa do Benfica – entrou noutra fase de maturidade, e fê-lo no mais difícil cenário possível. Os níveis de confiança da equipa vão subir brutalmente, sobretudo a nível interno.



8 – Cardozo marcou ao Porto, nas Antas. Também falhou outro em frente ao guarda-redes, mas isso já seria pedir demais. Cardozo também entrou noutra fase de maturidade. Nunca será Falcão, mas já é bem mais que o Cardozo de há dois ou três anos.



9 – Melhor jogador do Benfica: Artur. Aquela defesa frente ao Fucile valeu um jogo e vai valer um campeonato. Chega. Digo mais: é a defesa da vida do Artur, e a defesa da época em Portugal.



10 – O tipo de jogo do Porto após o 2-1 foi revelador de um mau estado anímico da equipa. Falta de instinto assassino. Falta de força. Falta de espírito. Simulações, perdas de tempo, anti-jogo. Uma equipa superior, com um estado de espírito inferior.



11 – Não percamos a perspectiva: para o Benfica, este empate é uma vitória moral, o que ainda revela as diferenças entre as duas equipas. O Porto continua a ser melhor equipa que o Benfica e a estar num patamar de classe superior. Mas é apenas uma equipa de futebol. O rolo compressor já lá vai. E, digam o que disserem, custa sempre muito descer à Terra, e não é de um momento para o outro.

4 comentários:

  1. Excelente análise.

    Provavelmente aquilo que mais me incomoda nesta relação desportiva com o Porto, é a postura de auto-assumida inferioridade que tantas vezes se vê. O desempenho de ontem foi um pouco melhor que a média, evidentemente, porque a equipa conseguiu 2 vezes dar a volta a resultados desfavoráveis, mas o incómodo daquela primeira parte em que o Benfica só não quis sofrer golos...

    Admito que faça parte do processo de crescimento da equipa, em termos de auto-confiança, mas parece-me claro que é preciso mais trabalho, muito mais, na área psicológica. Desse ponto de vista (também), JJ é fraquito. No entanto, não creio que VP seja melhor, onde Villas Boas era imensamente melhor (seguramente também pelo trabalho com um mestre, nessa área).

    Quanto às previsões, confirma-se o acerto. Ontem, quando os 10 últimos minutos se iniciavam, afirmei, em casa - "conheço um benfiquista que diz que o Benfica empata 2-2 e marca agora, nos últimos dez minutos!". Ca'ganda pontaria, Hugo!

    Esperemos que este resultado ajude a consolidar a equipa, que esta cresça, e que JJ não invente muito no que temos para jogar. Parece claro que temos uma excelente possibilidade para discutir o título, este nao, e o Porto está na tal dinâmica descente. Temos de aproveitar. O segundo título em 3 anos seria um terramoto, sob variadíssimos aspectos.

    Ainda assim, há muitas fragilidades internas que podem impedir que isto aconteça. Esperemos que a estrutura do Benfica seja capaz de as minimizar. É claro que resultados destes ajudam.

    Abraço

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  2. Concordo. Uma grande U'Night e caminho aberto. Mas a grande lição que aprendemos todos os dias das nossas vida também se aplica (e de que maneira) à bola: «Uma coisa é conhecer o caminho, outra é percorrê-lo.»

    Abraço

    P.S. - O JJ é muitas coisas, boas e más, mas há uma que lhe reconheço: quando cheira o sangue não é gajo para se ficar. «São muitos anos em África», como dizia o outro.
    Pode ser que saia como herói no final desta época...
    (sorriso malicioso)

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  3. Sobre o JJ, assim o gajo quisesse, mesmo com a idade que tem, podia crescer para ser um treinador excelente. Bastaria que percebesse que não é o maior da rua dele, que nem sempre se tem razão, que o primeiro passo para melhorarmos é reconhecer quando erramos. Com trabalho nalgumas áreas e até com uma equipa técnica capaz de suprir algumas das suas falhas, o homem podia ir longe. E ainda tinha uns 10 a 15 anitos para aproveitar o investimento - o velho Trap (ok, sei que não se compara), com aquele olhito azul maroto ainda aí anda e não se dá mal.

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  4. vasco leite...i.

    boa noite , por curiosidade , entrei neste blog , atravÊs do link do blog bola na area do eugenio queiros no record , no seu nick "espectador precoçe" ja gostava dos seus comentarios la , aqui são fantasticos .. subscremo na intrega os seus pensamentos sobre o benfica e do empate no dragão , moro perto do porto e conheço a mentalidade reinante nos adeptos azuis, e sentem mal nem sabem o que fazer!!! parabéns e continue..

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