sexta-feira, 30 de setembro de 2011

«Tá controlado, carago!»

Pouco tempo, pouco tempo, mas preciso da minha «dose».

Engraçado como o Standard de Liége reagiu ao calote do Porto – está bem, não é calote, para já é só pagamento mal parado, não me chateiem… – dizendo que o Benfica pagou tudo a horas. Os belgas, afinal, não são passarinhos. Já aprenderam como é que a coisa funciona. Não são só os dirigentes da América do Sul que, quando querem vender um jogador ao Porto, dizem que o Benfica fez uma oferta (e vice-versa).

Neste caso noto o que, para mim, mais do que o folclore, é importante: a falta de liquidez do Porto.
A desculpa de não terem recebido o dinheiro do Atlético de Madrid é, nitidamente, de mau pagador. O que é que o Standard tem a ver com isso? Por essa ordem de ideias o Anzhi chegava ao Porto, levava o Hulk por 100 milhões, punha-o a jogar, não pagava e o tipo da massa dizia: «Ainda não vou pagar porque estou à espera de encontrar petróleo ali num buraco que abri no quintal, e só tenho dinheiro quando me comprarem o produto.»

Agora, o Porto dizer que está à espera do dinheiro do Falcão é revelador do estado financeiro do clube.
A ser verdade, isso revela-nos várias coisas:

- o Porto gastou mais dinheiro do que o que tinha para gastar (senão, obviamente, não estaria à espera do dinheiro do Falcão), e fê-lo em jogadores de segunda linha ou em futuros. À excepção do Kléber, que foi atirado à força para a fogueira e até lesionado joga, o «reforço» mais utilizado, até agora, pelo Porto, é o Defour, com 239 minutos em 900 possíveis, sendo que esses 239 minutos foram em jogos de dificuldade inferior, o que significa que é o 17º (o décimo-sétimo!) jogador em tempo de utilização. Reforço? De quê? (Já agora, em dez jogos o Mangala jogou 90 minutos, o Djalma 57, Bracali, Iturbe, Sandro 0, o Danilo está a jogar mas no Santos. 35 milhões de euros bem empregues, e ainda mais considerando que não foram pagos. Tenho o feeling que há aqui meninos que antes de serem pagos já estão a ser vendidos);

- o Porto não comprou um substituto à altura do Falcão não por opção, nem por confiar no Kléber, nem por mais nada a não ser por ter sido apanhado com as calças na mão. Não comprou porque não teve dinheiro para comprar o único jogador que, realmente, devia ter comprado: um ponta-de-lança para o lugar do único titular que perdeu. O Porto não só gastou muito (e noto que o Iturbe foi o que custou menos) como, na fuçanga de roubar os dois brasucas ao Benfica, gastou antes do tempo;

- o Porto tem problemas de financiamento, apesar das largas dezenas de milhões de euros que recebeu só em vendas de jogadores  nos últimos sete anos.

Engraçado como, na secção portista do Record, ao mesmo tempo que vão dando umas bicadas no Grande Timoneiro, continua a sintonia entre a Direcção e o aparelho de propaganda. A última frase da mini-crónica a que eu chamo, carinhosamente, de cantinho do superdragão, em que um jornalista da casa dá uma opinião bem fundada sobre o dia a dia do clube, podia ter sido escrita pelo próprio team manager – não conheço o tipo mas gostei deste termo, dá uma ideia de grande profissinalismo, à inglesa. Na sequência do encorajamento para o jogo com a Académica, do amigo Pedro Emanuel (vocês vão ver…), Vítor Pinto escreve: «A reflexão sobre as opções de mercado, o modelo de jogo e até as decisões no banco terá de ser feita em cima de um triunfo.»

Tradução para uma mente pouco habituada: a Direcção está atenta aos problemas, não tem a cabeça enfiada na areia, mas pede aos adeptos para não dificultarem o trabalho ao treinador porque um mau resultado em Coimbra poderia complicar ainda mais as coisas. Não tenham dúvidas de que vamos pedir satisfações ao homem, mas tem que ser feito com calma. E não se esqueçam que o Pedro Emanuel é nosso amigo e que temos lá uma data de jogadores à borla. Ficai tranquilos. Além disso já não perdemos em Coimbra desde o tempo em que o Eusébio ainda andava de Fórmula 1. Tá controlado, carago!

1 comentário:

  1. Caro Hugo,

    A União Soviética faliu por Ronald Reagan, com a ideia, entre outras, da defesa à Star Wars, os ter empurrado para uma corrida financeiramente insustentável. Num clube de gestão completamente fechada como o Porto, o estado real das coisas, em particular os negócios que são feitos em torno do futebol, que envolvem testas de ferro e outros amigos de ocasião, permanecem longe do escrutínio de quem quer que seja, até porque a idolatria do Grande Líder faz com que, acerebradamente, ninguém questione coisa nenhuma.

    Claro que a falta de pilim que leva a uma situação tornada pública desta forma, é muitissimo interessante e curiosa. Só não tem o impacto público que tem, porque o jornalismo desportivo não é digno de tal nome. De qualquer forma os tipos estão tesos e eu acho que o Benfica devia já começar a publicar pelos canais adequados, a lista das próximas "estrelas" a adquirir. Pode ser que a ajude à implosão da versão portugo-futebolística do Império do Mal :).

    Abraço

    ResponderEliminar