segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um ponto a mais

Acabei de prometer a mim mesmo que  só vou voltar a falar de árbitros mais uma vez. Fico danado quando um árbitro estraga um jogo de futebol, fico ainda mais danado quando um árbitro estraga um jogo de futebol da minha equipa (e não tem de ser por a prejudicar, também fico danado quando a beneficia, porque torna o jogo inútil na valorização da equipa), mas fico danadíssimo, sobretudo, quando não consigo conter a minha danadice. É pouco dignificante fazer da arbitragem uma telenovela. É possível tratar desse tema de forma racional e prática, e quando voltar a falar de árbitros (a não ser para dar uma graçola, evidentemente) vai ser para o tratar de forma racional e prática. Fica para um destes dias.

Para hoje, só uma ideia. Errar com premeditação e errar sem premeditação são duas coisas completamente diferentes, e requerem soluções diferentes. Na parte do erro sem premeditação, o facto de a FIFA e a UEFA serem compostas por tipos que vêem futebol pelo olho do cú tem sido terrível para a arbitragem. A partir de certo ponto os árbitros, para seguirem carreira, têm de se tornar em burocratas, restritos à letra de uma lei que não só não compreendem como não faz sentido.

A lei do fora-de-jogo, por exemplo, tal como é aplicada, está ultrapassada, quer no espírito quer na forma de sancionamento, há décadas.
A questão do atraso ao guarda-redes, de que já falei aqui há uns tempos, merecia um auto-de-fé à coragem e à inteligência dos árbitros e de quem os industria, assim como a da expulsão do jogador que vai isolado «em direcção à baliza». As regras contra o anti-jogo (que são o pior veneno de qualquer desporto) são próprias de uma mentalidade do século XIX. Hei-de falar de tudo isto.

Por agora, só esta questão: o que é que o jogador do Benfica, ontem, ou o do Leiria, em Alvalade, ou o do Rio Ave, na semana passada, em Guimarães, podiam fazer para evitar «aqueles» penáltis?
O jogador do Benfica está encolhido, de lado, com a cabeça virada para o outro lado, sem ver a bola nem saber para onde ela vai, e leva com a bola no cotovelo que está encostado ao corpo.
O jogador do Leiria leva com a bola no pé e, sem sequer ter tempo de retirar o braço, na mão imediatamente a seguir.
O do Rio Ave está de costas – completamente de costas! – em queda, sem sequer perceber onde está a bola, e leva com ela no braço.

Imaginemos que um defesa está parado numa grande-área. Pelas costas um adversário vem contra ele e cai. O árbitro marca penálti. Só havia uma maneira do defesa ter evitado aquela falta: se não estivesse a jogar. Nem desviar-se podia. É assim tão estúpido.

Não volto a falar de árbitros (com seriedade, entenda-se) durante uma semana, e quando falar vou durar para aí três dias, para não ter voltar a abrir a boca e poder fazer um link sempre que houver caldeirada.

Em frente.


Benfica (IRPR=0.233)

Sem ganhar o seu jogo, o Benfica, dos três grandes, foi, segundo o meu IRPR, quem deu melhor resposta à pressão. À partida pode parecer contraditório, mas acaba por fazer sentido.

Em Braga o Benfica teve um dos jogos decisivos do campeonato, num contexto de poder passar para a liderança isolada ou, em caso de derrota, de não aproveitar o empate do seu rival directo.

Jogou a seguir a uma partida europeia (é verdade que ambas as equipas ficaram prejudicadas por esse aspecto, mas isso não invalida que os jogadores do Benfica tenham tido limitações físicas), enfrentou uma equipa que praticamente não perde em casa e que trazia três vitórias seguidas sobre si em Braga. No contexto da história recente, Braga é, a seguir às Antas, o terreno mais difícil de jogar na temporada – mais que Alvalade. Um Braga, refira-se, que sofreu três golos em dez jogos no campeonato, e que marcou um golo num penálti que não existiu à beira do intervalo, depois do jogo ter sido transformado num caso atípico devido a três interrupções por falta de iluminação.
Não digo que o Benfica foi mais prejudicado que o Braga, mas num jogo destes já é difícil manter a concentração sem distracções. Assim, é muito mais. Podia ter saído a fava a Braga (se calhar não podia, mas pronto…), saiu ao Benfica.

O que é um facto é que o Benfica vai para as cabines perante este cenário acumulado e, lá dentro, perde o seu melhor jogador de ataque, Gaitán, sendo forçado a fazer entrar outro jogador contra os planos do treinador.

Neste preciso momento, o Benfica de 2009/10 (o que foi campeão) teria o jogo perdido – aliás, nesse ano o Benfica perdeu em Braga em situação muito mais favorável do que esta. O de 2010/11 mais perdido o teria. O de 2011/12 foi buscá-lo.

Na segunda parte, o árbitro transforma uma expulsão directa a Alan num cartão amarelo. Essas são as contingências de jogar em Braga. O Braga é a equipa mais suja do campeonato, salientando-se, nesse aspecto, Alan e Mossoró, que passam a vida a tentar enganar os árbitros. Estes, por falta de coragem, acabam por ceder e por se tornarem vulneráveis e manipuláveis.
Contra o Benfica esse facto é agravado por se ter deixado passar para a opinião pública a mensagem (falsa, ao contrário do que aconteceu no túnel da Luz) de que a vítima dos acontecimentos de Braga em 2009 tinha sido o Braga, o que, «formalmente», legitima que, a partir daí, sempre que o Benfica vá a Braga, os árbitros se sintam livres para beneficiarem o Braga. Faz parte do jogo.

Para acabar, se alguém teve oportunidades para vencer o jogo foi o Benfica. Fê-lo sem jogar como devia ter jogado, mas fê-lo, e de tal forma que, mesmo perante todas estas circunstâncias, o empate acaba por saber a pouco aos seus adeptos.

Não digo que o resultado foi excelente para o Benfica, mas, a frio, empatar em Braga num jogo com estas características, sobretudo em comparação com as épocas anteriores, é um bom resultado, e tem razão Aimar (que é um futebolista excepcionalmente inteligente e lúcido) ao dizer que não sabe se o Benfica ganhou ou perdeu um ponto.

Tenho para mim que, no fim, se verá que o ganhou.

Se tivesse ganho o jogo, o Benfica teria tido um IRPR de 0.700, que seria o segundo melhor da época atrás do empate nas Antas. Empatando, fez 0.233. Mesmo assim foi a sétima melhor prestação da época, e fica à frente de algumas vitórias como asque conseguiu com o Guimarães, a Académica, o Otelul ou o Beira-Mar.

E só não considero o empate como um resultado completamente positivo porque, apesar de tudo, num cenário conjectural ser campeão passa, à partida, por ganhar em Braga.


Sporting (IRPR=0.185)

É oficial: o Sporting sobrenatural acabou.
Anda há três meses a jogar com equipas de segunda para o campeonato (com a admissível excepção deste Marítimo, que ganhou em Alvalade…), e chega ao ponto em que era suposto estar: em terceiro, por perto de Porto e Benfica, com sete pontos perdidos sem ter jogado com as três melhores equipas do campeonato, com um onze bem acima do que no ano passado (também era melhor…) e vulnerável à sorte e ao azar, como se viu no jogo com o Leiria.

O Sporting está a voltar ao seu normal precisamente quando precisava de estar no seu melhor. Tem quatro jornadas para mostrar o que vale. Calculo que no final da primeira volta esteja a seis pontos do líder, seja ele o Benfica ou o Porto.

É verdade que perdeu Rinaudo na quinta-feira, mas também é que perdeu «só» Rinaudo na quinta-feira. Pagou mais caro as lesões de Rodríguez, Onyewu e Polga, mas o Leiria não é propriamente o Manchester City, apesar da cor dos equipamentos.
Metade da equipa de ontem ou não jogou na Roménia ou jogou metade do tempo, e isso num jogo com pressão praticamente zero.

Acredito que o principal factor de pressão do Sporting – e isso foi visível, na minha opinião, depis do intervalo – foi ter sabido que, se ganhasse, ficaria a um ponto também do Benfica, além do Porto. E não acho que tenha sido por acaso que tremeram por todos os lados, sobretudo os mais frágeis (os da defesa, Patrício, João Pereira, Carriço, Evaldo, André Santos, que já eram os que lá estavam no ano passado...) quando o Leiria começou à procura do empate.

O Sporting marcou primeiro e cedo e viu-lhe ser perdoada uma expulsão. As dificuldades que encontrou foram criadas por si próprio.


Porto (IRPR=0.060)
O Porto fez uma das piores exibições de que me lembro, e não esqueçamos que teve um penálti aos cinco minutos. Não me arece indiscutível que devesse ter havido expulsão. Devia ter havido um penálti, é verdade, mas a questão, aqui, é se o árbitro errou por não marcar ou se viu, de todo, qualquer hipótese de haver falta. Uma coisa é o árbitro ver e errar  ou não (como, em Braga, com o penálti ou a expulsão, ou até mesmo em Olhão, com a não-expulsão no primeiro penálti), outra é nem sequer ter hipótese de errar.

Em relação ao resto, acho que já falei durante o fim-de-semana.

1 comentário:

  1. Excelentes as apreciações sobre os penalties. A FIFA e o IB não sei muito bem o que querem para o jogo. Bem não parece que seja.

    Sobre o jogo de Braga, a apreciação pareceu-me correcta. Vai praí uma histeria nos blogs do Benfica porque não sei quê e tal. Ganhemos aos lagartos no dia 26 e a coisa pouco melhor podia ser!

    ResponderEliminar