sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Um sorteio mentiroso

Tive de fazer uma lobotomia ao meu computador e estive um bocado à rasca, mas ressuscitei-o a tempo de pôr este post sobre o sorteio ainda antes do jogo com o Rio Ave.

Quase podia jurar que li «boa merda» nos lábios do Rui Costa, para o João Rodrigues, quando saiu o Zenit ao Benfica, hoje de manhã, e a câmara os focou.

Se disse, tirou-me as palavras da boca.

O Benfica tem muito pouco a ganhar frente ao Zenit de São Petersburgo.

Desportivamente, em termos de progressão na Liga dos Campeões, que é o que neste momento mais parece interessar às pessoas, de um modo geral (compreensivelmente, porque não é todos os anos que se pode chegar aos quartos-de-final), parece ser uma equipa acessível. Aliás, é acessível. Mas a única equipa inacessível ao Benfica era o Milan. Acima do Benfica, na minha opinião, estavam Bayer Leverkusen, Nápoles (ambos pela dificuldade tradicional do Benfica frente a equipas desses países) e, pela qualidade das equipas em si e pela sua experiência europeia, Lyon e Marselha.

Não chego, no entanto, ao ponto de dizer que o Benfica tem uma equipa claramente superior à do Zenit. O Zenit, como se demonstrou na fase de grupos, está um nível abaixo de um Porto normal – distância que foi anulada pelo mau momento do Porto quando as equipas se defrontaram na Rússia –, ou seja, sensivelmente no mesmo patamar que o Benfica.

Ao nível dos jogadores há diferença entre Benfica e Zenit, mas não esmagadora. Há três ou quatro jogadores do Zenit que jogariam, com relativa facilidade, no Benfica – Bruno Alves e Danny, por exemplo, jogariam claramente no onze, arrisco a dizer que o defesa esquerdo também (seja ele qual for…) e lembro-me de ter visto lá outros tipos jeitosos nos jogos da fase de grupos. E o treinador não é parvo nenhum.

O défice de qualidade que possa haver é relativamente bem colmatado pela experiência internacional do clube, que está habituado a disputar a Liga dos Campeões, e pelo factor casa, em que o Zenit é das equipas mais fortes entre as da terceira linha europeia (onde também se situa, por agora, o Benfica).

Para os benfiquistas e para os portugueses o Benfica vai ser favorito para passar a eliminatória, mas na Europa não o é de certeza, pelo menos de forma clara, e garanto que os adeptos e jogadores do Zenit estão agora a olhar para o Benfica da mesma maneira que são olhados a partir de cá, como um adversário acessível. É uma eliminatória em que há pouco a ganhar, em termos de prestígio, e muito a perder.

Contra esta minha opinião está o favoritismo nas apostas para o Benfica, mas penso que isso depende muito do contexto actual (Benfica apurado à frente do United, Zenit apurado atrás do APOEL). Com o aproximar dos jogos não tenho dúvidas de que a margem se vai aproximar bastante. Aliás, 2.40 para 1 por um apuramento do Zenit é uma boa aposta.

Para piorar, não estou mesmo nada certo de que passar a eliminatória venha a ser bom para o Benfica. Não passa dos quartos-de-final, de certeza (e se passar, pessoalmente, não me diz muito, porque não reflecte o valor real da equipa, e provavelmente faria mais mal que bem no futuro), e arrisca-se a perder concentração preciosa num campeonato em que um empate a mais pode significar a derrota final. Sobretudo quando as perspectivas do Porto ficar só com o campeonato para jogar aumentaram drasticamente neste mesmo sorteio (apesar de eu considerar que foi um sorteio relativamente favorável ao Porto, e amanhã explicarei porquê).

Se eu pudesse escolher teria escolhido o Milan. Um adversário em que havia tudo a ganhar desde o princípio, em que o Jesus e os jogadores tivessem, desde o início, uma ideia clara do seu posicionamento estratégico (ao contrário do que acontece no confronto com o Zenit, em que vai ser o decorrer do primeiro jogo que vai decidir quem é o agressor e quem é o underdog), e em que uma eliminação (para mim bem suportável, com todo o pragmatismo) seria aceite sem traumas nem dramas psicológicos que se reflectissem no comportamento interno. A Europa do Benfica está feita. Daqui para a frente o que vier é a mais, e não estou certo que o Benfica mereça mais do que o que já alcançou. Não pela ambição que tem mas pela equipa que o representa actualmente.

Há um factor que vai jogar muito a favor do Benfica, em termos competitivos: o momento da eliminatória é o de maior vulnerabilidade das equipas russas, que apanham as primeiras eliminatórias das competições europeias do ano civil quase em pré-época. Geralmente, quando passam esta primeira eliminatória, conseguem chegar longe e até chegar à final, às vezes, da Liga Europa, porque chegam na melhor forma ao momento decisivo, em que todas as outras equipas europeias estão presas por arames.

A questão do frio não me parece muito relevante. As equipas portuguesas superam esse problema com relativa facilidade, pois é um problema com que já estão a contar – é quando são apanhadas desprevenidas que se deixam enganar.

Jogar em casa o segundo jogo pode ser decisivo, porque acho que o Benfica vai marcar na Rússia, e provavelmente até mais do que um golo, dada a permeabilidade actual da defesa do Zenit – mesmo que se reforcem em Janeiro.

Em resumo, com algum desgosto meu (racionalismo puro), não vejo o Benfica a ser eliminado pelo Zenit da Liga dos Campeões, em duas mãos, em Fevereiro/Março.

Quanto a Porto e Sporting, vai ter de ficar para depois. Ainda ponho um post hoje, depois do Rio Ave, para castigar o meu computador, que me pregou o susto do século.

3 comentários:

  1. Boas, sou o portista que comentou há uns posts atrás. Não referiste o mais importante que advém da passagem aos quartos: mais uma pipa de massa, que não se ganha nem ganhando a Liga Europa. E depois dos erros de gestão (mais olhos que barriga e "comichões") no Porto, mais esta diferença nas receitas vai causar mossa... vais ver os que vão sair em Janeiro a preço de saldo. Eu que vi o Zenit no estádio, são muito acessíveis, portanto o mais certo é passarem e arrumarem a seguir com um colosso sem muito alarido.
    Contudo também acho que com um novo treinador, se houver dinheiro, o Porto pode renascer. É entusiasmante jogar contra o City, o 1/2º melhor plantel do mundo, a seguir ao Real talvez. Mesmo uma equipa B... só em avançados tem Aguero, Balotelli, Dzeko, Tevez encostado e Adebayor não tinha espaço! dass!

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  2. Anda por aí a teoria de que o Zenit é fraco fora de casa, e esta teoria baseia-se em apenas 90 e tal minutos de jogo no Dragão. Este Zenit foi a Donetsk empatar 2-2 mas jogou muito mais do que o Porto quando lá foi, por exemplo. O jogo no dragão foi enganador, notava-se que os russos não estavam bem fisicamente. Aliás, eu nem achei que eles defenderam bem contra o Porto como muita gente diz, tiveram foi sorte e um guarda-redes à altura.

    Dito isto, o Zenit é de facto uma das equipas mais acessíveis ao Benfica (pessoalmente preferia o Marselha) e penso que vai ser uma eliminatória renhida. De qualquer das formas, acho que o Benfica tem algo a ganhar contra os russos. A passagem para os quartos é viável e, se acontecer, será bastante lucrativa do ponto de vista financeiro. Não me refiro só aos prémios por jogo, falo também da valorização dos passes dos jogadores do Benfica. Gaitán passaria de facto a valer 30M e Javi Garcia justificaria a venda por 20M ou mais, por exemplo. E tudo isto sem incluir a vitória no campeonato.

    O que me apoquenta mesmo é que a 2ª mão na Luz irá acontecer poucos dias após a recepção ao Porto.. Triste coincidência

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  3. Eu sei porque preferias que o Benfica jogasse contra um grande nos oitavos e arrumasse logo sem vergonhas: o Benfica tem um plantel inferior ao do Porto e todos os factores de ajuda sao poucos no que toca 'as possibilidades do Benfica ser campeao. Concordo com isto.

    Mas tambem nao deixa de ser verdade que os quartos de final (assumindo o cenario de que falas do Benfica eliminar o Zenit) da CL dao muito mais visibilidade ao e valorizacao do plantel do que vencer a Liga interna.

    Nao sei se confio muito no LFV para reduzir o gigante passivo do Benfica. Nao parece ser uma prioridade dos clubes por essa Europa fora. Mas a verdade 'e que os clubes portugueses estao a anveredar por um caminho que pode tornar-se desastroso, e o Benfica tem possibilidades de comecar a fazer lucro ano atras de ano e comecar a abater a divida que nos tolhe.

    Luis

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