quinta-feira, 1 de março de 2012

O factor imprevisível

Por mais ou menos nervoso miudinho, por mais ou menos voltas que se queira dar, não há volta nenhuma: na minha opinião (a de hoje como a de Dezembro), quem chegar à frente ao fim do ciclo que acaba com o Benfica-Porto tem 90 por cento do campeonato ganho. Considerando que nestes dois meses as equipas deram, como diria um concorrente de um concurso televisivo, uma volta de 360 graus, e que se encontram exactamente no mesmo ponto em que se encontravam nessa altura, o jogo desta sexta-feira vale 90 por cento do título. Quem sair dele à frente será o campeão (com 90 por cento de certeza…). E, para que fique igualmente claro, um 1-1 dá vantagem ao Benfica (uma vantagem de um ponto), o 2-2 dá vantagem ao Porto (uma vantagem de alguns golos), o 3-3 dá uma vantagem de um ponto ao Porto.

Portanto, são 90 minutos para decidir um campeonato. Cá estaremos no fim para falar.



Falo em Dezembro porque, no dia 19 desse mês, apontei três factores mais importantes que o plantel para a decisão do campeonato: Máquina, Momento e Aleatoriedade.

Antes de amanhã, deixar aqui a minha antevisão do jogo propriamente dito, achei curioso recuperar estes três factores.



A Máquina



Há dois dados insofismáveis nestes dois meses:

1 - Nunca a máquina de propaganda do Porto esteve tão calada, mesmo depois do fim-de-semana horribilis (Feirense-Benfica e Gil-Porto);

2 – O Benfica continua sem assinar o contrato com a Olivedesportos.

No primeiro caso, tenho a sensação de que assim continuará até haver a certeza de que o campeonato está realmente em jogo, e que provavelmente só gastarão as balas a partir da semana que antecede o Sporting-Benfica e o Braga-Porto.

No segundo caso tenho a sensação que a decisão «no próximo mês» que o Vieira anda a prometer há seis meses só vai aparecer… a partir da jornada que tem o Sporting-Benfica e o Braga-Porto.

Ao nível do mercado e da gestão do plantel, o Porto (no curto prazo, em termos meramente desportivos, e sem ir ao plano económico, entenda-se) goleou. Contratou dois titulares – três, se se contabilizar Danilo – despachou vários suplentes (suplentes na cabeça de Vítor Pereira, entenda-se também, mas ainda assim suplentes), e os titulares que comprou elevaram claramente o nível da equipa, Lucho pela qualidade pura e o Manko pela utilidade específica.

O Benfica? Bom, vejamos:

- perdeu o seu potencial melhor extremo-direito (Enzo Pérez);

- perdeu Rúben Amorim, polivalente de grande utilidade, sobretudo nesta altura do campeonato, como se viu em Guimarães;

- contratou um suplente sem ritmo de jogo e com escassas hipóteses de ser um reforço útil esta época (Djaló) e um não-suplente (André Almeida) pelo que se depreende da utilização de Witsel a defesa-direito (o mesmo Witsel que, em Guimarães, só jogou meia-hora por apresentar sinais de cansaço)

- não conseguiu encontrar uma alternativa ao evidente ponto-fraco da sua defesa, o lateral-esquerdo, que é pura e simplesmente sofrível, por mais boa vontade e «e pluribus unum » que se tenha;

- tão importante como tudo isto, não conseguiu recuperar Saviola. Aliás, a não-utilização de Saviola em Coimbra corresponde, definitivamente, à sua certidão de óbito como jogador do Benfica.

O plantel do Benfica perdeu, claramente, valor, não compensado pela subida de outros jogadores. Nélson Oliveira só por muito boa vontade pode ser contabilizado como factor numa corrida pelo título.

A crise apanhou, claramente, o Benfica na pior altura – e ainda não apanhou o Porto porque a única alternativa do Porto era fazer o que fez: fugir para a frente. Veremos, quando se chegar lá à frente, quanto é que vai custar.



O Momento



Tal como eu tinha dito em Dezembro, para o Benfica, Janeiro foi a continuação de uma época já longa, e para o Porto o recomeço de uma época dentro da época.

E se é verdade que o momento curto é de quebra do Benfica, com uma derrota e um empate, não nos dizemos iludir pelas aparências o momento menos curto do Porto está muito longe de ser melhor. O renascimento portista, a nova época depois de quatro meses de experiências, testes e rotatividades, resultou em cinco pontos perdidos e uma eliminatória da Liga Europa concluída com uma goleada em Inglaterra.

O Benfica parece estar a descer e o Porto a subir, mas basta uma vitória do Benfica no jogo de amanhã para que imediatamente a análise do curto prazo passar para uma análise do menos curto prazo.

Para já mantenho o que escrevi há alguns dias: mesmo com dois maus resultados seguidos, o caminho do Benfica mantém uma normalidade para campeão que o do Porto não tem, e que só uma vitória do Porto na Luz aniquilaria. Perder em Barcelos não é o mesmo que perder em Guimarães ou empatar em Coimbra. Ainda não me dei ao trabalho de ver quantas vezes, nos últimos 20 anos, é que um campeão o foi mesmo perdendo e empatando com as duas equipas que subiram de divisão na época anterior, mas seria um exercício interessante (para quem tivesse tempo), porque no final de cada campeonato há um padrão de normalidade que, penso, se mantém historicamente.

E, neste ponto, tenho de fazer uma correcção ao que escrevi há uns dias, quando disse que o Porto, ao contrário do Benfica após o jogo com a Académica, ainda não tinha feito dois maus resultados consecutivos no campeonato. Não é verdade. Na 4. e 5.ª jornada o Porto empatou, sucessivamente, com Feirense e Benfica.

 
A Aleatoriedade



O Guimarães-Benfica é um caso clássico de conjugação de factores negativos sobre uma equipa: a eliminatória europeia, o campo, a forma do adversário, as lesões, a marcha do marcador, tudo apontava para um descalabro do Benfica.

Da mesma forma, em Barcelos, a ausência de Hulk e Fernando, a envolvente histórica do jogo (o Porto à beira de um recorde), a arbitragem, no mínimo, destemida, um adversário igualmente na melhor forma da época, conjugaram-se para a primeira derrota do Porto no campeonato em dois anos.

Se alguma coisa boa estes dois maus resultados trouxeram para o Benfica foi que, de certeza absoluta, ninguém sequer se lembra que na terça-feira há um jogo decisivo para a Liga dos Campeões, na Luz, com o Zenit. O estado de espírito com que o Benfica entra para este jogo com o Porto é de alerta máximo, o que poderia não ser o caso se chegasse com três ou quatro pontos de avanço. A ideia de uma almofada para usar antes de se jogar com o Zenit seria perigosamente aliciante para os jogadores do Benfica, e potencialmente mortífero, pois, em caso de derrota, deixaria o Porto a apenas um mau resultado de distância. Pelo contrário, se o Benfica ganhar ao Porto, o Porto passa a precisar que o Benfica faça dois maus resultados para lhe passar à frente.

O Benfica tem o privilégio de sentir que o jogo para a Liga dos Campeões é totalmente irrelevante. Se passar essa eliminatória, é duvidoso que possa voltar a ter esse privilégio, porque não passa a estar demasiado em jogo como não há outro jogo no campeonato tão transcendente como este, que se sobreponha a um apuramento para as meias-finais da Ligados Campeões.

Por outro lado, o Porto vai ter a vantagem de não haver mais desconcentrações europeias até ao final da época. Mas lá mais para a frente, não agora. E agora é que a porca torce o rabo. Dentro desta perspectiva de «aqui e agora», não deve ser menosprezado, no contexto da aleatoriedade que marca todas estas coisas, o facto de o Porto, potencialmente ter de jogar sem o seu melhor jogador neste momento, James Rodríguez – ou, pelo menos, de jogar cerca de 60 minutos sem ele. Os outros casos, pela proximidade, não parecem tão sérios – com as eventuais excepções de Moutinho, com uma viagem chata e 45 minutos nas pernas, e Maxi Pereira. Mas Maxi é um jogador a diesel, até vinha a correr do Uruguai se fosse preciso, sempre à mesma velocidade. Só quando parar é que é um problema. Até lá, continua a correr.

Noutro plano, é igualmente interessante conjugar o seguinte:

- o Benfica recupera, de uma semana para a outra, o seu jogador-chave (Javi García, pelo que fica evidente nos resultados alcançados quando eles não jogou), o líder da sua defesa (Luisão) e o seu atacante em melhor forma (Rodrigo), além de não perder o seu ponta-de-lança titular (Cardozo,e aqui  máquina funcionou muito bem, tal como no caso de Rodrigo).

- o Porto, além de perder o seu jogador em melhor forma, perde também o seu outro desequilibrador actual (Varela) e joga sem Danilo, com quem, claramente, contava para agora.

Neste aspecto, o tal momento a muito curto prazo parece pender para o lado do Benfica.

Seja para que lado for, parece-me que esta particularidade (os jogos da selecção dois dias antes do clássico) é uma daquelas que, daqui a alguns anos, ainda será falada como tendo sido um factor determinante no desfecho do clássico e do próprio campeonato, pela sua peculiaridade e imprevisibilidade. Numa corrida tão equilibrada, pode estar, realmente, apenas aqui a chave.

3 comentários:

  1. Só quero fazer um comentário ao ponto nº 1. E vou falar daquilo que não se pode, nem se deve, ignorar. O facto do Porc. se manter calado, e conhecendo nós a psicologia deles ao longo dos tempos, tem muito a ver com a expectativa em que se encontram dadas as manobras de bastidores que engendraram e que pensam que irão dar resultados. Por isso, nada melhor do que esperar, antes de falar. Para não levantar a lebre.

    As notícias da "visita" do Pedro Proença ao Porc., para além de ser uma coisa na qual acredito totalmente, pela lógica que encerra, - seria ingénuo, para não dizer burro, se o não fizesse - mais não é do que a GRANDE CARTADA jogada por eles para o jogo. Basta estudar as estatísticas e verificar que NUNCA o Benfica ganhou com Pedro Proença. NUNCA beneficiou o Benfica, pelo contrário, os jogos em que empatou ou perdeu foram devidos a erros graves, alguns totalmente ilógicos, CONTRA o Benfica. Sinceramente, não acredito que não deixará de repetir o que fez até agora. Só se o Benfica não lhe der qualquer hipótese. Esta é a grande incógnita.

    Não há árbitro tão DISSIMULADO em Portugal. Existem outros corruptos que mostram bem a intenção que usam nos jogos do Benfica. Mas este, graças à "filiação" (falsa) no Benfica tem enganado toda a gente (menos os andrades) durante muito tempo. E só agora parece que as pessoas começam a abrir finalmente os olhos.

    O tipo é suficientemente desavergonhado, e ambicioso, para repetir as gracinhas de outros jogos. E, no fim, será demasiado tarde. E aí irão ouvir, ver e ler os comentários da máquina de propaganda fascista que até agora têm primado pela ausência e pelo silêncio.

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  2. O Pedro Proença também não me inspira confiança.

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  3. Com franqueza, acho que vou dar o meu passeio diário com o meu cão à hora do jogo. Quando chegar, a coisa já estará resolvida. A perda dos últimos 5 pontos, receio eu, pode ter deixado a equipa vulnerável, e os corruptos têm sido mais fortes psicologicamente nos últimos anos, embora eles não estejam a jogar a ponta de um chavelho.
    Ganhar hoje será de uma importância fundamental. Empatar mantendo a vantagem em caso de empate pontual final, seria menos mau. Perder seria dizer adeus ao título e o fim do ciclo de Jesus e Vieira (com o adeus ao campeonato). Confesso que a puta da expectactiva corre o risco de me matar e um cenário como o do ano passado é de pesadelo. Prefiro saber à posteriori, se a coisa correr mal, do que ter de viver a coisa em real time. Vou trocar o relato por um audiobook do Stieg Larsson :).

    Hoje a equipa vai demonstrar se tem estofo de campeã. Esperemos que dê a resposta que faltou nas últimas duas jornadas.

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