terça-feira, 5 de junho de 2012

«E o burro sou eu?!»

Gosto muito do Manuel José, e o velho acertou na mouche. Cirúrgico, sem salamaleques, com a visão própria de quem:

- não precisa da mama da FPF e da Liga para nada;

- já viu tudo o que tinha a ver e já experimentou tudo o que tinha a experimentar no futebol;

- não sente necessidade de andar a lamber o cu a Ronaldos, nem a Espíritos Santos, nem a Pintos da Costa;

- está «fora», cá dentro.

Um dia, lá mais para a frente, eu explico porque é que, para mim, o único treinador português com capacidade para substituir o Jesus (à excepção do Mourinho, por razões óbvias), é o Manuel José.

*

O jogo com a Turquia – o outro nem percebi que havia, confesso – só vem confirmar uma ideia que já tenho há algum tempo: não se devia fazer este tipo de jogos de preparação. Pelas seguintes razões:

- não servem para preparar nada, porque, por um lado, os jogadores não «estão» lá (muito menos no fim de uma época sobrecarregada de pressão e à beira de mais 15 dias de super-pressão já com o depósito vazio), e por outro porque os segundos 45 minutos, com as substituições, são uma mera formalidade;

- não há nada a ganhar e há muito a perder. Como disse o Manuel José, o capital de confiança ganho com um apuramento muito difícil e meritório foi desperdiçado, à beira de um jogo com a segunda melhor selecção da Europa, para andar a fazer «dressages» com a  Macedónia e a Turquia (vender bilhetes, cachecóis, mostrar os meninos, etc, etc);

- ao contrário do que se diz, prejudica o espírito de selecção. A única forma de se adquirir esse espírito é fazer com que, cada vez que os jogadores joguem, «sintam» o jogo, a camisola e a pressão.

A selecção só devia fazer jogos de preparação com equipas do top-15 do Mundo. Porque:

- mesmo fazendo menos jogos, cada jogo seria muito mais útil, no sentido de nos confrontarmos com equipas a sério e nos prepararmos para as grandes competições, mais difícil e mais intenso;

- se perdêssemos, teríamos sempre algo de positivo para aprender, o que não acontece, manifestamente, quando s eleva 3-1 da Turquia em casa;

- se associaria a selecção a um nível de excelência.

Para andar a jogar com Macedónias já chegam os apuramentos. Fora isso, deveria ser apenas nos jogos a sério. Ou jogar com o Lichtenstein não serve como jogo-treino?

*

O Paulo Bento está a ser burro. Eu tenho legitimidade para dizer isto porque, a seguir ao Jesus, sou a pessoa que mais percebe de futebol (de longe) em Portugal.

O Bento, como o resto dos portugueses, ainda não percebeu a vantagem que tem em ter o Ronaldo na equipa. É normal. Como é raríssimo aparecer um jogador a assim a tendência é para pensar que é bom para a equipa e pouco mais. Errado. Quando uma equipa tem um Ronaldo, ou um Messi, a lógica normal de funcionamento de equipa deixa de existir.

Eu explico: os mais antigos devem lembrar-se do Mundial de 90, em que a Argentina foi à final com um guarda-redes a defender penáltis, o Maradona e o Cannigia. Como? Da mesma maneira que os Chicago Bulls, no basquetebol, ganhara o primeiro campeonato no ano em que o Mivhael Jordan passou de marcar 40 pontos por jogo em média para passar a marcar 30.

Em qualquer jogo colectivo de ataque e defesa alternada um jogador excepcional, como o Ronaldo, tem duas fases distintas em que é decisivo: a primeira, em que, graças ao seu talento, desequilibra os jogos individualmente; a segunda em que, depois dos adversários perceberem como o anular individualmente, o jogador passa a decidir os jogos colectivamente.

Para o Ronaldo, que é muito egocêntrico, não foi fácil fazer esta transição. A sua primeira fase acabou mais ou menos a meio do último ano em Manchester, e a segunda só chegou na segunda época em Madrid, já com Mourinho, entre esses dois momentos, Ronaldo andou à procura do seu lugar, a desperdiçar golos e a perder títulos. Na selecção, a segunda fase de Ronaldo ainda não chegou e duvido que vá chegar.

Ronaldo vai ser o melhor jogador presente no Europeu – de muito, muito longe, e só não o seria se o Messi jogasse – mas vai passar despercebido, precisamente porque o Paulo Bento não vai ter lata para fazer o que é preciso.

O que é que era preciso?

1 – Montar uma defesa e um meio-campo de ferro, sem panaleirices, para jogar em contra-ataque, à italiana;

2 – Deixar os três avançados, mas com três elementos rápidos, ratos a jogar à bola e o mais soltos e, ao mesmo tempo, livres, quanto possível;

3 – Ensinar o Ronaldo a passar a bola no momento certo.

O golo de Portugal contra a Turquia devia ser mostrado e repetido antes de todos os treinos, porque é a única (e grande) hipótese desta Selecção ter sucesso: Ronaldo com espaço, a aparecer em posição de remate e, no momento certo, a passar a bola ao Nani, que só teve de olhar e marcar. O Ronaldo é tão perigoso no um contra um que não é preciso mais do que isto e uma defesa de betão para ir longe neste Europeu ou no próximo Mundial.

Portugal teria boas possibilidades de ser campeão europeu se o Ronaldo chegasse ao fim do campeonato com um golo marcado e seis ou sete assistências.

Jogadores destes aparecem de 20 em 20 anos, e nos só o vamos perceber quando andarmos há 30 a falar «dos tempos do Ronaldo».

Um último argumento: o Maradona foi o melhor jogador e marcador da Argentina no Mundial de 1986, que a Argentina ganhou. Sabem quantos golos marcou dos 3 com que a Argentina bateu a Alemanha na final? Nenhum. Só deu a marcar. No jogo mais difícil e decisivo, o melhor jogador do mundo não marcou nenhum golo, e foi campeão.

Porque é que eu sei que o Paulo Bento não vai ter lata? Porque o ponta-de-lança esperto, rato e finalizador de que o Ronaldo e esta selecção precisavam para ganhar o Europeu está no Brasil, tem 75 anos, e chama-se Liedson.

Numa competição com 3 a 6 jogos num mês? Ai não que não era…

*

Ao pessoal que tem aparecido e ficado a seco, uma explicação: as aulas acabam para a semana e têm sido avaliações atrás umas das outras. A partir de terça/quarta-feira cá nos veremos mais vezes.

12 comentários:

  1. "tem 75 anos, e chama-se Liedson"

    LOOOOOL (não à tua opinião mas aos 75 anos)

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  2. A seguir a JJ és quem percebe mais de bola? E em tiro ao alvo em que ficamos?

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    1. Aí jogamos em pares, como na patinagem artística. Eu sou o tiro, o JJ é o alvo.

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  3. Digo o mesmo que tu dissesse no ultimo parágrafo. E ainda tenho exames

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  4. Gostei da teoria.Eu até colocava o Viana para lançamentos longos e deixava Cr7 e Nani na frente.O senhor tranquilidade tem que perceber que não temos os jogadores de outros tempos a meio-campo e que o sucesso passa por um estilo italiano.Mas a ilusão de grande equipa e favoritos pesa demais naquelas cabeças.Quanto ao Manuel José dificilmente terá outra oportunidade... os boys do futebol não gostam dele...

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    1. De todos os treinadores que foram trucidados pelo Benfica nos seus anos negros, aquele de que tive mais pena que não resultasse foi o Manuel José. Mas sabes de uma coisa? O Manuel José só não tem hipóteses porque não se achandra.
      Se o Manuel José fosse de andar a «semear» vinha para Portugal, ficava cá um ou dois aninhos, arranjava novas amizades e, provavelmente, ainda ia a tempo de uma segunda volta.

      O Manuel José tem a dose certa de ingredientes para se ser treinador do Benfica: 40 por cento de carisma, 30 por cento de experiência/estatuto e 30 por cento de ciência.

      No Benfica tal como ele é actualmente, onde não há lugar para meninos e a pele do treinador tem de ter pelo menos 5 centímetros de espessura, os únicos treinadores com hipóteses de sucesso são os Jesus, Manuel Josés, Scolaris.
      Só depois da estrutura estar montada, ao fim de dez anos a competir solidamente pelo campeonato, é que vamos voltar a ter espaço de manobra para ir desencantar um Eriksson, Mourinho, Villas Boas, com hipóteses de sucesso e de continuidade, sem correr o risco da casa ruir toda pela base.

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  5. A selecção não tem hipóteses nenhumas.Mas gostaria de os ver fazer baixar a garimpa dos boches.Muita sorte(e estudo) para os exames.

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  6. Para atestarem os meus níveis de confiança quanto ao desempenho da (vossa) selecção nacional digo-vos que apostei, com amigos, que Portugal nao vai marcar nem um golo no Euro. E que perde com a Dinamarca...

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    1. Eu sou gajo para sofrer pela selecção (no dia do jogo) mas, olhando para uma equipa que pode ter a jogar ao mesmo tempo, em cenário real, Rui Patrício, Rolando, João Pereira, Miguel Veloso, Quaresma e Hélder Postiga, a conclusão só pode ser uma: ou jogam juntos há dez anos e ganham vantagem sobre as outras equipas pelo puro entrosamento ou as hipóteses de chegarem ao fim de 3 jogos sem golos marcados, mesmo com Ronaldo, são muito elevadas.
      Tenho pena de dizer isto.
      Acho que a famosa vaca do Queirós faleceu durante o último Inverno, de anemia...

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  7. Carissimos

    Venho apresentar o meu blog, que ira acompanhar o europeu, onde será feita toda a analise ás selecções e suas variantes técnico-tácticas, aos jogadores que irão estar em destaque,as jovens promessas, as tácticas, com os seus pontos fortes e as fragilidades a serem aproveitadas pelos adversários.

    Visitem: rumoakiev.blogspot.pt

    Os melhores cumprimentos

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