domingo, 19 de agosto de 2012

Um cadáver que anda


Queria recordar isto. E também um outro post, depois desse, em que escrevi que só acreditava que o Benfica fosse campeão se tivesse um defeso perfeito, quer na parte política (leia-se «cascar no Proença» até convencer toda a gente que perdemos o título por causa daquele fora-de-jogo), quer na gestão do plantel, quer no trabalho técnico, no relvado. Lembro-me de ter escrito que o Benfica estava a trabalhar muito bem até esse momento, e que o período mais importante da época (e decisivo) seriam os primeiros 15 dias de treinos.

Pois bem, bastou o primeiro dia para, vendo chegar os jogadores que não deviam e não chegar os jogadores que deviam, perceber que as coisas, daí em diante, iriam começar a correr terrivelmente mal.

Confesso que uma semana depois do início da pré-época, desliguei.



Compreensivelmente, quando vejo as coisas a desenrolarem-se como eu antevi, as minhas expectativas ficam baixas, e jogos como de ontem passam a afectar-me bastante pouco.

Percebi que as minhas expectativas tinham atingido o mais baixo ponto possível quando, antes de vir de férias, comprei o Football Manager. Quando chego ao «limiar Football Manager» é sinal de que perdi toda a esperança. É uma forma de catarse; de tomar um controlo, ainda que ilusório, sobre uma realidade que não posso controlar.

(Para que conste, comecei na época de 2011/12, fiquei em segundo, atrás do Porto, e na época de 2012/13 fui campeão. Não tenho dinheiro para comprar jogadores, porque naquele mundo paralelo não se pode acumular passivos, mas estou convencido que o facto de ter vendido o Emerson e o Aimar, de ter encostado o Saviola e de ter usado o Capdevilla como defesa-esquerdo tiveram grande infuência no meu sucesso.

Além de atenuar as minhas mágoas, o Football Manager, que é um jogo estúpido nas coisas complicadas mas muito inteligente nas coisas básicas, e que se rege por números concretos, quantificações simples e um critério racional, teve outro mérito: explicou-me exactamente o estado calamitoso em que se encontra a gestão do futebol do Benfica. Para terem uma ideia, pelas minhas estimativas, entre técnicos de segunda categoria, jogadores excedentários pagos a peso de ouro e salários ruinosos pagos a jogadores suplentes, vou levar quatro épocas, a contar de 2011, só a endireitar o clube, de maneira a que qualquer coisa naquilo faça sentido e possa começar a jogar, de facto para ganhar, e não apenas para não perder. O título? Bom, digamos que sou um mestre da táctica, mas em bom… deu-me para ganhar crédito suficiente para acabar de limpar a casa. Numa palavra, o futebol do Benfica, em termos de eficiência custo/rendimento, é um desastre.)



Voltando ao jogo com o Braga. Foi bom. Quando chegarmos ao final da época, poderemos pegar no DVD e dizer: «Aqui encontra-se resumido o Benfica 2012/13.»

A saber:

- uma equipa cansada, não nas pernas mas na cabeça, incapaz de sair do colete de forças mental criado por um treinador maníaco e egocêntrico, convencido de que o jogo de futebol se ganha ao contrário, a partir do banco e da resolução pontual de situações de jogo, a olhar compenetradamente para a tabuleta das bolinhas vermelhas e pretas como se ali estivesse a resposta para uma equação complexa de 22 individualidades autónomas e, elas próprias, complexas, incapaz de perceber que a táctica é, de facto, apenas a parte final de um jogo de futebol;

- um conjunto de jogadores com um ADN de ataque (implantado por esse treinador), desejosos de rasgar o campo e jogar rápido, mas sem as soluções colectivas mínimas necessárias para criar o espaço para jogar;

- uma equipa de jogadores isolados perante o enorme problema que é jogar por um monstro do futebol, desamparados por uma estrutura técnica mais preocupada em safar-se do que em defendê-los, a começar por um treinador que escolhe os filhos e os enteados conforme a utilidade para a sua «estratégia» e trabalha a partir daí;

- uma equipa de jogadores que vão tentar, contra adversários mais bem preparados, contra um país desportivo que torce, invariavelmente, contra eles, e contra um treinador egoísta, e que, no limite, vão falhar, acabando (incentivados pelo próprio clube) por se refugiarem nos erros dos árbitros, recebendo a compreensão e o respaldo de um estádio cheio de adeptos demasiado ressentidos para aceitarem a realidade: a de que a equipa é fraca.



O que encontramos no princípio da quarta época de Jorge Jesus no Benfica? Uma equipa incapaz de fazer mais de três passes seguidos no meio-campo adversário, de marcar mais de dois golos seguidos em jogadas em que não haja um ressalto ou um erro de arbitragem, de pegar num jogo e dar-lhe a volta de que ele precisa, de pensar antes de jogar.

Um capitão perdido em campo. Um lateral esquerdo vindo da extrema-esquerda do Paços de Ferreira a oferecer dois golos ao adversário. Um jogador em recuperação psicológica, após um ano de exílio e uma pré-época em crescendo, a ser preterido por um compatriota que fez dois treinos. Um guarda-redes a passar a bola aos avançados, dando continuidade a um sucessivo processo de medianização.

Em resumo, um «projecto» exausto a caminho do fracasso.



Para ganharem, este ano, os jogadores do Benfica teriam de cometer uma proeza: criarem uma unidade à prova de bala e vencerem, até, o treinador e o próprio clube, com toda a dinâmica de mediocridade que nele está instalada.

Não vão conseguir.

Não têm capacidade competitiva suficiente para isso.

Duvido que alguém tivesse.



PS – Este post vem com delay porque estou num lugar perfeito, com pinheiros, com piscina, com bar, com família e sem rede wireless. Entretanto, Porto e Sporting já perderam dois pontos cada um, a proverbial estrelinha do Jesus já veio de novo em (aparente) socorro, e o empate do Benfica deixou de ser dramático. É sempre assim – até ao momento em que se chega ao precipício, com o chão a desfazer-se atrás de nós, e a única alternativa é atirar-nos de cabeça para, já que morremos, morrermos em estilo. Não altero uma vírgula ao que escrevi de manhã.

10 comentários:

  1. Sempre fui um gajo optimista em relação ao Benfica. Quando falo de futebol faço um esforço para pensar com a cabeça e não com o coração, mas isso nunca me impediu de no início de cada época dizer "este ano é que vai ser!". Pela primeira vez na minha vida, não consigo pensar assim. Custa-me imenso ver o meu clube tão mal gerido, esbanjando dinheiro escusadamente e desaproveitando jogadores que poderiam render tanto. Para somar a isto, o nosso treinador está no auge da sua loucura, insistindo em tácticas sem meio campo e colocando extremos a jogar a lateral sem necessidade disso. Melgarejo pode se tornar num bom lateral? Pode. Mas quantos pontos ainda vamos ter de perder até que isso aconteça?

    Oh Hugo, Sporting campeão? Essa é arrojada :)

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  2. E faz muito bem em não alterar.Não são os resultados dos adversários que vão resolver as coisas.Alías estes empataram fora em campos dificeis enquanto que nós o fizemos em casa e que ninguem venha com a desculpa de que era o Braga.O pessoal anda pouco convincto e a não ser que JJ faça uma reviravolta sensacional na sua maneira de ser e pensar a saturação é demais e a equipa está mesmo presa no tal colete de forças.

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  3. Foi o pior que nos podia ter acontecido, o porto e/ou o sporting não ganharem.

    Não existiram resultados práticos reflectidos na classificação, dos erros cometidos no sábado:

    1 - Sálvio a jogar de início sem pré época feita com a equipa;
    2 - Bruno César numa posição de extremo esquerdo com 527 extremos de raiz no plantel;
    3 - A perder, entra Aimar com 45 minutos jogados em toda a pré época, com Carlos Martins no banco em muito boa forma.
    4 - Sem defesa esquerdo de qualidade no plantel. Melgarejo é o que menos culpa tem. Faz o melhor que pode e sabe. Luisinho, julgo, ainda não será opção ao nível que o Benfica precisa.

    Abraço,
    RS

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  4. Pois eu cada vez me convenço mais que estamos perante incompetência consciente ou seja estamos com um cavalo de Tróia dentro de casa.(E não deve ser o único).Não consigo encontrar outra explicação para tamanhas estupidezes que o JJ faz .Começo a por a hipótese de este camelo ser de Tróia.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Jorge Jesus limita o Benfica. Ponto.

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  7. Infelizmente receio que este ano vá ser o pior dos 4. Em termos de atitude o treinador está pior do que nunca, o que significa que em termos de gestão de plantel, na 4ª época, a saturação com quem só premeia aqueles que parecem ser os "seus rapazes", vá ser mais que muita.

    Sobre esta Direção, é como em relação ao governo. Voto seja em quem for, até no Vale e Azevedo (!), para os tirar de lá. Esta ruinosa gestão de contratações, este abdicar de uma política de gestão desportiva deixando, apararentemente, o treinador funcionar como um manager que faz o que quer, prosseguindo interesses que não parecem os do clube, com custos desportivos nas duas épocas anteriores e no primeiro jogo oficial, são o suficiente para mim. Passei do elogio a Vieira, pelo que fez em termos de recuperação do clube, para uma intolerância total em relação a quem arruina o Benfica financeiramente e lhe retira a capacidade de, desportivamente, ocupar o lugar a que a sua História o elevou.

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  8. Estou tão fodido com o JJ que já o vejo como camelo de Tróia.Já estou como o Rui,estou pronto a votar no 1º Vale Azevedo que apareça.Estes é que não.Definitivamente NÃO.

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  9. Vamos todos ser acusados de anti benfiquismo por pensarmos em vez de colocar a cabeça na areia ou andar de olhos fechados.Há muito que nunca ví tantos erros fatais em 2 épocas e 1 jogo.Só mesmo talvez o Amásio e o poeta Jorge.E ninguem alí parece preocupado.Aquele título de 2010 veio antes de tempo e deu pontos a mais a este louco.

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  10. Eu fiquei estranhamento contente com o empate, coloca o JJ numa posição mais trémula, e com as eleições por perto, pode ser que o LFV se livre dele para salvar o couro dele.

    Só tenho é pena de alguns jogadores, terem de passar por isto.

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