domingo, 11 de novembro de 2012

Um problema de cada vez


Tenho de confessar que já não via o Benfica jogar com atenção há uns tempos. Foi hoje. Porque não gosto de fazer figura de velho dos Marretas e dizer mal só por dizer. Fiquei genuinamente atento a ver o que estava diferente, o que estava igual, e o que pensar dos novos jogadores.

Em relação ao resultado, nenhuma dúvida: depois de um jogo da Champions, e antes de um Braga-Porto, é  o tipo de resultado que, no final da época, faz a diferença entre uma equipa campeã e as outras. É muito possível que, daqui a uma jornada, o Benfica seja líder isolado.
Tal como na época anterior, o Benfica está a fazer um melhor campeonato, em termos de resultados, do que o Porto. Empatou um jogo em casa com o Braga e um fora, com a Académica. Dois resultados completamente aceitáveis num percurso à campeão - tal como o seria se empatasse em Vila do Conde.
Este é, tradicionalmente, o momento mais forte da época para o Jesus (entre a 3.ª/4ª e a 10ª/11ª jornadas). Tal como no ano passado, o jogo com o Sporting vai ser fundamental, e o do Porto, em casa, decisivo, mesmo sendo à 14.ª jornada.
 
Esta é a conjuntura.

Quanto à «estrutura», acho que a forma do Jesus pensar o futebol é relativamente simples de entender. É um treinador de esquemas. Divide o jogo em bocados e tenta encontrar um esquema. Tem os lançamentos laterais, os cantos ofensivos, os cantos defensivos, o ataque do lado esquerdo, o ataque do lado direito, a defesa por aqui, a defesa por ali, tem a defesa, o meio-campo e o ataque, e depois vai montando o jogo, retalho a retalho. Foi o que o futebol português lhe ensinou.

Porque é que o Cardozo, para o Jesus, não tem preço? Porque há um bocado do jogo (para aí cinco ou seis vezes em noventa minutos) em que a bola vai dar à grande área, e um tipo que consiga meter o pé e, de primeira, enfiá-la na baliza nem que seja um terço das vezes, resolve esse bocado. Não serve para nada noutros bocados? Arranja-se um esquema.

O Jesus nunca vai perder um campeonato por não ter jogadores pesados, porque aprendeu, ao longo dos anos, em todas as divisões, que o futebol português tem campeonatos que se decidem no Inverno e em maus relvados.

O Jesus nunca vai perder um campeonato nos pontapés de canto ou por ter centrais baixos, porque sabe que noventa e cinco por cento das jogadas de ataque de todos os jogos do campeonato acabam num cruzamento para a área.

Nunca vai perder um campeonato por jogar sem um trinco que varra a intermediária, porque sabe, por experiência, que, num campeonato de pontapé para a frente e pouca capacidade técnica, praticamente todas as jogadas de perigo das equipas pequenas, em casa, resultam das segundas bolas.

É assim, ao fragmentar o jogo e tentando resolver cada fragmento um a um, tentando retirar aos jogadores o máximo de importância em cada acção (porque sabe que o jogador é um animal pouco fiável, basicamente calão e geralmente com pouca vontade de triunfar, ao contrário dele), que o Jesus vai ganhando campeonatos, apuramentos para a Europa, subidas de divisão.

Foi assim que chegou à Luz e, sendo campeão na primeira época, se convenceu, para todo o sempre, que essa maneira de trabalhar chegava. Encarou essa vitória como a prova concludente de que era o melhor condutor do mundo.

É esse o limite do Jesus, e é esse o limite da equipa do Benfica, que nunca vai deixar de ser campeão por não ter centrais altos, trincos, matadores e jogadores especialistas em alguns momentos do jogo, mas que nunca conseguirá ser uma equipa capaz de ligar as diferentes fases do jogo. Porque não jogadores nem treinadores com espírito colectivo suficiente para isso.

Pode vir a ser campeã, mas apenas se o Porto se deixar convencer de que não há hipótese de não cilindrar qualquer equipa do campeonato em dez minutos. Se isso acontecer, há uma hipótese de que, num dos jogos entre-Champions, esses «dez minutos à campeão» não resultem e que o Benfica, se se mantiver por perto, aproveite, no momento certo, para os enganar. Fora desse cenário, é irrealismo. O Porto é uma equipa que se situa num patamar competitivo entre o lugar 12 e 16 da hierarquia europeia, o Benfica estará sensivelmente entre as posições 25 e 30. Em cada dez jogos disputados em terreno neutro, em condições de igualdade de motivação e necessidade de ganhar, o Benfica ganha dois, empata dois e perde seis. E, da maneira como o campeonato está desequilibrado a favor destas duas equipas, para o Benfica ser campeão empatar não chega.

 

Em relação aos jogadores, confirmo o que pensei na altura da contratação do Ola John. Tem escola, faz-me lembrar o Ruud Gullit, mas muito menos potente, e é, claramente, um extremo-pivot, parecido com o Gaitán, que faz jogar, menos veloz, menos técnico, mas claramente mais inteligente e muito mais colectivo.

O Matic é um excelente jogador, claramente diferente do Javi Garcia, muito menos especialista na primeira fase defensiva mas muito mais completo, e eu diria mesmo que mais próprio de uma grande equipa europeia do que o Javi Garcia em termos de características, por ter visão de jogo, capacidade técnica e comprimento e largura de jogo. Não é um jogador unidimensional, como Javi. Mas também não tem o seu carácter – e o que as grandes equipas compram é carácter. Talvez se revele, com a rodagem.

O Melgarejo esta melhor, obrigado, mas quando apanhar com o James vai ficar despido da cintura para baixo.
 
O Enzo Pérez, técnica e tacticamente, é bom jogador. Tem fibra. Vamos ver o que vale para a equipa a longo prazo. Penso que, pelo menos, não será difícil vendê-lo acima do preço de custo.

O Lima tem tantos golos nos pés como o Cardozo, e mais jogo. Ao vê-lo jogar, cada vez mais me convenço que tinha razão ao pensar que, nesta equipa do Benfica, qualquer avançado com o mínimo de espírito assassino marca 40 golos por ano, sem ter de ser uma nulidade em todas as outras fases do jogo, como é o Cardozo. O Cardozo está numa fase boa, está maduro, deixou de perder muito tempo a tentar fazer o que não sabe e, por isso, está muito mais confiante em si próprio e parece melhor jogador. É o normal num jogador que chega aos 30 anos. Tem mais 30/40 golos até acabar a sua carreira no Benfica. Há um, dois anos, teria sido bem vendido, indo buscar um Lima qualquer. Actualmente, já não faz muito sentido pensar nele como jogador para vender, mas antes como um investimento consumado, para jogar mais dois ou três anos, fazer de conta que se dá muito valor aos jogadores-património e ir aproveitando os seus bons momentos, que, contra os Setúbais deste campeonato, valem alguns pontos.

Quanto aos outros, uma palavra só para o Rodrigo e para o Sálvio. O Freitas Lobo perguntava na televisão, há uns dias, o que se passava com a evolução do Rodrigo. Passa-se exactamente aquilo que eu previ, há um ano, que se passaria: a falta de cultura colectiva do treinador e da equipa leva a que o Rodrigo, como o Sálvio, como o Gaitán, antes dele, como o Nolito, como o Bruno César, como outros, confundam «jogar bem» com «jogar sozinho».
Por isso, sendo um jogador muito melhor que os outros, insiste no individualismo, agarra-se à bola e tenta resolver os jogos isoladamente, levando a que tente fazer o que sabe e o que não sabe e a tomar constantes opções erradas. Como é muito forte, vai aparecendo para marcar os seus golos. A imprensa alimenta os egos para vender capas, toda a gente gosta muito, convence-se de que assim é que é, e uma deficiência pontual e perfeitamente corrigível no processo de crescimento de um jogador excepcional transforma-se num defeito.
Ainda hoje, ao assistirmos a um jogo do Chelsea, podemos ver, perfeitamente, a quantidade de erros fundamentais que David Luiz, um dos melhores centrais do Mundo em potência, comete ao longo do jogo, colocando-o à mercê do azar. Porquê? Porque o menino era tão lindo que não havia nada a ensinar-lhe. A não ser as «tácticas», claro…
 
 

15 comentários:

  1. O Matic se ganhar um terço da agressividade do Javi e meter na cabeça que não pode arriscar tanto no passe como ele gostaria, vira caso sério. O Enzo vai disfarçando com a sua técnica e inteligência mas não tem o instinto de sacrifício pela equipa que a posição de 8 necessita. Nem ele, nem o Bruno César nem o André Gomes, que ainda cheira a leitinho. O plantel necessita da chegada de um novo médio, coisa que muito provavelmente não vai acontecer.

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    1. O enzo nao tem espirito de sacrifício... O que vale é que você sabe ver futebol...
      Quem tem espirito de sacrifício deve ser o gaitan ou o Bruno César ...

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    2. LOL wtf? Se tu te desses ao trabalho de ler o meu comentário vias que na minha opinião nem o Enzo nem o Bruno César têm espírito de sacrifício para jogarem a 8. O que por sua vez não implica que eu ache que o Enzo não presta ou que eu pense que o Gaitán seria o homem indicado para jogar no meio. Mas ainda bem para ti se estás contente com o meio-campo do Benfica, é menos uma coisa com que te preocupas.

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    3. Sr "LOL wtf":

      -Li o seu comentário, caso contrário nao teria respondido... Logo aqui vemos o quão astuto é o senhor;

      - mas eu por acaso falei da posição 8??? Falei,sim, de espirito de sacrifício, que é algo característico de uma jogador e nao de uma posição.

      - naturalmente, nao estou contente com o meio campo do Benfica, mas tanto o matic como o enzo tem mostrado muita qualidade e capacidade em desempenhar aquelas posições.

      Esta percebido sr "lol wtf"?

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    4. Mr Fehér:

      - O que não falta na internet é gente que responde a outros comentários sem os ler devidamente e sem reflectir sobre qual seria a mensagem que o autor queria transmitir. Se tu leste o meu comentário, ainda bem;

      - Na minha opinião não se deve separar as características de um jogador da posição que ele ocupa. Um avançado que tenha metade da garra do Maxi Pereira será sempre visto como um avançado raçudo. Um defesa que tenha metade da garra do Maxi Pereira será sempre visto como um defesa banal, a não ser que ele compense com outros atributos como posicionamento, rapidez e/ou inteligência;

      - Nunca disse que o Enzo não se estava a safar. O que me parece é que o argentino ainda não tem o perfil para certos jogos que a equipa irá enfrentar esta época. E o pior é que mesmo assim ele é o jogador que melhor desempenha a posição 8 e não tem substituto à altura.

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    5. Ok, mas eu li com atenção, como sempre faço, o teu comentário. Tu cometeste um erro que, em Filosofia, se chama "Generalização Apressada". Mas eu até te compreendo: é tanta a malta burra aí a escrever nos blogs que um gajo fica maluco e enfia tudo para o mesmo saco... Sem stress.

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  2. patriarca disse:


    Mas é nestas alturas DECISIVAS que o Sistema Mafioso Corrupto entra com mais afinco em acção !!!
    Daqui a DUAS jornadas vamos ao ALVALIXO e já hoje se viu o que o SISTEMA AMPAROU as Lagartixas, que não ganhavam o jogo e o Pedro proença Porco DEU DE MÃO BEIJADA os Três pontos aos Osgas.

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  3. Percebes muito de futebol...quem treinas?

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    1. Porque é preciso treinar para perceber de futebol né?

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  4. Nao concordo com o que dizes sobre o ola john. Parece me claramente sobrevalorizado, o típico caso de quando se faz uma coisa bem e mal cinco, e mesmo assim é bom jogador. A quantidade de passes e recepcoes que falha é uma coisa absurda. Joga bem nas segundas parte porque tem espaço. E a percentagem em termos de tempo de um jogo em que o jogadores do Benfica têm espaço é mais ou menos 15%...

    André Almeida sofrível sem saber o que fazer à bola quando a tem nos pés...

    O melgarejo, coitado, é um gajo com azar. Sr o Jesus me olhasse daquela maneira cagavam-me no relvado, de certeza. Olhar de maluco, foda se...

    Na segunda metade da epoca vamos começar a jogar melhor: gaitan, Martins, luisao, aimar, Rodrigo vão aparecer em grande.

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    1. Convido-te a visitares o blog "Lateral Esquerdo" e depois fala-me da importância do Ola John....

      Poww!!

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    2. Caro ruicosta, bem sei que o ola john tem escola e sabe movimentar-se bem. Mas as vezes que perde a bola por falhas técnicas são demasiadas e infantis e ainda causam contra ataques por parte dos adversários.

      Ok?

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  5. esta de comparar o ola john com o gullit é digna do freitas lobo. valha nos deus! só por esta exibição de ignorância vale a pena não por cá mais os pés
    LC

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  6. Para mim o Matic a jogar a 8 rendia mais, e dava muito mais à equipa do que a trinco.
    Quanto ao Rodrigo e companhia, tenho pena, por eles, de serem treinados pelo JJ, e o melhor para o Rodrigo era sair para um Liverpool/Borossia/Valência da vida o mais rápido possível, para ainda crescer como jogador. Se não acontecer, mais 1/2 anos e não passará dum jogador mediano, que nem no Benfica será titular indiscutível. Já Gaitan, está longe de ser salvo.

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